Agora, tal como na poesia de António Gedeão teremos evidenciado com objectividade irrecusável, o tempo é de coisas assumidas com responsabilidade um pouco maior que o simples agrado ou desagrado dos diletantes e dos que ainda fazem das letras a profissão que não têm.
Se, como diz o poeta (pela ordem, no primeiro dos seus poemas, que é o primeiro do primeiro livro), é «inútil definir este animal aflito», será porque, como ele também diz, a sua aldeia «é todo o mundo». E não interessa na verdade definir o que um homem é, porque só é definível o que ele faz.
Excerto de A Poesia de António Gedeão por Jorge de Sena
Olho o céu e contemplo as estrelas que fulgem. Busco as constelações, balbucio os seus nomes. Nasci a olhá-las, conheço-as uma a uma. São sempre as mesmas, aqui, agora e sempre.
Se alguma coisa a desconsolava tantas vezes, era sentir-se igual a toda a gente, saber que tudo quanto pudesse fazer seria igual ao que já estava feito, e que portanto a sua existência sobre a Terra era inútil.
Celebrar o livro é celebrar a imaginação de quem o lê e a arte de quem o escreve.
Dia 23 de Abril é uma data simbólica para a literatura, já que, de acordo com várias coincidências ou desígnios do Destino, neste dia desapareceram importantes escritores como Cervantes e Shakespeare.
Podemos celebrá-lo de diferentes formas:
# visitar a nossa biblioteca municipal e requisitar um livro;
# ir à nossa livraria favorita. A minha é a Ler Devagar;
Quase todos os autores sentem um inexplicável embaraço pelos primeiros livros publicados.
Os primeiros passos, incertos, inconstantes, de descoberta do processo de criação são os que mais procuro como leitora. Quero conhecer um autor não apenas na sua constelação, mas também nos seus primórdios.
Um autor deve ser lido em todo o seu processo evolutivo, para compreendermos de onde vem e para onde vai.
Haruki Murakami começou a escrever sem qualquer pretensão séria de ser escritor. Sentado à mesa da cozinha, depois do trabalho, até altas horas da noite, foi assim que escreveu os seus dois primeiros livros. Confessou que, apesar de lhe darem algum embaraço, tornaram-se insubstituíveis por fazerem parte do seu processo evolutivo como escritor. São os primeiros livros que permitem ao autor descobrir o seu ritmo criativo.
O que me obriga a mergulhar de cabeça num mundo regido por uma outra lógica, que nada tem que ver com a que rege o mundo onde me movimento. E uma vez no interior desse universo regido por uma lógica tão diferente, o grande problema é que todas as conversas se tornam incongruentes e as histórias não têm fim.
in Em busca do Carneiro Selvagem (1982) de Haruki Murakami