No Outono de 1851, Gogol instalou-se em Moscovo numa casa do seu amigo Conde Alexander Tolstoy. Tinha um círculo de conhecidos, que incluía o filósofo Aleksei Khomyakov e o poeta Nikolai Yazykov.
Khomyakov foi casado com a irmã de Yazykov, Catherine, uma mulher inteligente, gentil e carinhosa. No entanto, Gogol não teve tempo para desfrutar do seu grupo de amigos próximos, antes da tragédia se abater: Catherine morre em Janeiro de 1852, apenas três dias depois de ter adoecido com tifo. Ela tinha apenas 35 anos.
Gogol ficou desvastado com a morte de Catherine. Dominado por um medo da sua própria moralidade, mergulhou numa depressão profunda e voltou-se para a religião em busca de salvação. O seu conselheiro espiritual era um padre ultra-ortodoxo chamado Pai Matvei Konstantinovsky, que considerou a sua escrita como obra do diabo. Talvez, sem qualquer surpresa, Gogol tenha declarado o segundo volume de "Almas Mortas" um fracasso, queimando-o, juntamente com outros manuscritos.
Quem visita Moscovo pode dirigir-se à casa que fica na Nikitsky Boulevard e imaginar o frenético escritor a cometer este acto destrutivo.
Artigo "The final days of Russian writers" de Yolanda Delgado
Apesar do seu sucesso, Gogol tinha ambições literárias por cumprir. Profundamente atraído pela terra do grande Dante e pelo legado literário do Renascimento, tentou criar a sua própria "Divina Comédia". Gogol ficou frustrado por ter conseguido apenas recriar o "Inferno" na primeira parte de "Almas Mortas", então decidiu escrever o seu próprio "Purgatório" e "Paraíso" no segundo volume.
Ele estava determinado a que a continuação do seu "poema" apresentasse personagens com virtude e integridade - um exemplo moral para a sua audiência russa.
Até então, os leitores de Gogol tinham visto as suas obras como comédias ultrajantes, aparentemente sem o profundo pathos da condição humana que está por detrás do humor estranho e das personagens absurdas.
Artigo "The final days of Russian writers" de Yolanda Delgado
Fevereiro, 1852. O escritor Nikolai Gogol está a morrer. Ele tenta puxar meia dúzia de sanguessugas do seu nariz, mas as suas mãos estão firmemente atadas à cama. Entretanto, os médicos charlatões que estão a tratá-lo preparam outro banho quente, a ferver, e enviam mais jarros de água gelada para despejar sobre a cabeça dele. É um triste fim para um dos grandes da literatura russa, cujo sucesso e fama não o puderam salvar do seu sentido de fracasso e do medo mórbido da morte que o contagiaram nos seus últimos dias.
Gogol era já uma celebridade quando regressou à Rússia em 1848, mais de 10 anos depois de ter partido para a Europa. Tinha obtido um sucesso popular com obras como "O Inspector-Geral", "O Nariz", "O Capote" e a primeira parte de "Almas Mortas".
Este foi o homem que escreveu as primeiras obras de surrealismo russo e o grotesco, e foi tão importante para o futuro desenvolvimento da literatura russa que há uma citação, que alguns atribuem a Dostoiévski e outros a Turgenev, declarando: "Todos nós saímos do capote de Gogol".
Artigo "The final days of Russian writers" de Yolanda Delgado