Tenho andado numa pesquisa desenfreada pelas bibliotecas da minha área de residência e pela internet por livros dos meus ciclos de leitura.
Têm sido horas de pesquisa que me têm preenchido os dias desocupados, mas que me têm recompensado com felizes encontros e acasos inesperados.
Aos contos de Gogol tenho-os encontrado dispersos por diferentes colectâneas ou em edições singulares, o que me obriga a manter um registo conto por conto do que vou encontrando e lendo.
Esta pequena colectânea de Histórias de São Petersburgo e Outros Contos reúne quatro contos: O Nariz, O Capote, Avenida Névski e Diário de um Louco.
Escreverei sobre eles individualmente, porque assim o merecem.
O mundo desaba quando Zenobia recebe a notícia do seu diagnóstico: cancro do útero. Apesar dos tratamentos e das cirurgias a doença vence-a:
Corre o rumor da concessão do Prémio Nobel a Juan Ramón, estando ela internada e a agonizar. É informada extra-oficialmente, pela gravidade da sua situação de que, efectivamente, seria concedido ao poeta o dito prémio. Ela é quem dá ao poeta a notícia, que a acolhe com enorme tristeza, sendo estas as suas últimas palavras, juntamente com recomendações e pedidos ao seu sobrinho sobre os cuidados para com o poeta.
Traduzido do espanhol de fundacion-jrj.es
Juan Ramón não comparece à cerimónia de entrega do Prémio Nobel devido ao falecimento de Zenobia.
Jaime Benítez a receber o Prémio Nobel em nome de Juan Ramón
Desde o dia da sua união não conceberam a existência de um sem o outro e Zenobia torna-se o bastião do poeta e da sua obra:
Juan Ramón trabalhou incessantemente com a colaboração de Zenobia como secretária.
José Bento in Antologia Poética de Juan Ramón Jiménez
Também ofereceu ao seu marido ajuda como secretária, transcrevendo a sua obra, ocupando-se dos seus assuntos, protegendo a sua privacidade, rodeando-o de facilidades e comodidades para o trabalho.
Traduzido do espanhol de fundacion-jrj.es
O que mais se destaca dessa etapa é a colaboração literária entre Juan Ramón e Zenobia, que os leva a traduzir a obra de Rabindranath Tagore para espanhol. Zenobia ocupava-se da tradução literal e Juan Ramón dava-lhe forma poética. O primeiro livro que publicaram em conjunto foi La Luna Nueva, que apareceu com as iniciais de Zenobia e com um poema de Juan Ramón. O livro teve um enorme êxito, embora ela tivesse ficado desgostosa por aparecer o seu nome, porque expunha o seu relacionamento, algo que mantinham em segredo e porque achava que o mérito era do poeta.
Juan Ramón teve uma paixão avassaladora por Zenobia que durou até ao fim dos seus dias. Quando se conheceram foi um encontro raro de almas que se completavam emocional e intelectualmente:
Em 1913 conheceu Zenobia Camprubí Aymar, mulher maravilhosa: graciosa, inteligente, culta, apaixonada pelo poeta e pela sua obra, de espírito sensível, mas forte, capaz de enfrentar os problemas práticos do quotidiano.
José Bento in Antologia Poética de Juan Ramón Jiménez
Os Byne [família vizinha de Juan Ramón] apresentaram-nos numa conferência dada por Bartolomé Cossío na Residência de Estudantes, no início do Verão de 1913. Foi fácil entabular conversa. Sem perder tempo, ele declarou-se e mantiveram correspondência, muito séria da parte dele, e por graça da parte dela.
Traduzido do espanhol de fundacion-jrj.es
E como qualquer grande amor que se preze, este não obteve consenso:
Embora inicialmente Zenobia se sinta atraída por ele, influenciada pela sua mãe, a quem não lhe parece o poeta, o homem adequado para a sua filha, rejeita-o e a relação entre eles torna-se complicada. Mas Juan Ramón não desiste e tanta foi a sua insistência que de nada serviram os contratempos que ocorreram, formalizando finalmente o seu noivado no Verão de 1915.
Traduzido do espanhol de fundacion-jrj.es
Contra a vontade da família, gente de sucesso social para quem um poeta não era um partido vantajoso, Zenobia casou com o poeta, que para isso se deslocou a Nova Iorque, onde o casamento se celebrou na igreja católica de Santo Estêvão, em 2 de Março de 1916.
José Bento in Antologia Poética de Juan Ramón Jiménez
Juan Rámon tem sido a luz poética que me tem iluminado, enquanto percorro as páginas de Gogol e Dostoiévski.
Estou a adorar ler por entre as intermitências dos caminhos solarengos e floridos de Moguer, escapulindo-me sorrateiramente para as ruas cinzentas e frias de São Petersburgo.
Adoro-lhe as veias de terra e de mar, os lábios de silêncio e as mãos de pássaro.
Encosto-me a ele nos momentos mais solitários e consigo ouvir o pulsar da terra, da mesma maneira que consigo ouvir o mar, encostando-me a um búzio.
A crítica costuma dividir a sua trajectória poética em três etapas:
Etapa sensitiva (1898-1915): marcada pela influência de Bécquer, o Simbolismo e o Modernismo. Nela predominam as descrições da paisagem, os sentimentos vagos, a melancolia, a música e a cor, as recordações e os devaneios amorosos. Trata-se de uma poesia emotiva e sentimental que transparece a sensibilidade do poeta através do perfeccionismo da estrutura formal
Etapa intelectual (1916-1936): descoberta do mar como motivo transcendente. O mar simboliza a vida, a solidão, o desfrute, o eterno tempo presente. Inicia-se assim mesmo uma evolução espiritual que o leva a procurar a transcendência. No seu desejo de salvar-se perante a morte esforça-se por alcançar a eternidade, que procura conseguir através da beleza e da depuração poética.
Etapa verdadeira (1937-1958): toda a sua escrita durante o seu exílio americano.