Nunca cheguei a compreender como se pode amar o próximo. Na minha opinião, é precisamente o próximo que não podemos amar; pelo menos, só poderemos amá-lo à distância (...). É preciso que um homem se mantenha oculto para que possam amá-lo; desde que mostra a cara, o amor desaparece.
A estupidez aproxima-se do objectivo e da clareza. É concisa, ao passo que a inteligência usa de rodeios e se esquiva. A inteligência é desleal, na estupidez há honestidade.
Meu caro, houve no século XVIII um pecador que proferiu esta frase: «Se Deus não existisse, teríamos de o inventar.» Com efeito, foi o homem que inventou Deus. E o que é espantoso não é o facto de Deus existir realmente, mas sim a ideia da necessidade de Deus ter vindo ao espírito do animal feroz que é o homem; porque é uma ideia santa, enternecedora, que só faz honra à humanidade. Eu já desisti há muito tempo de perguntar a mim mesmo se foi Deus que criou o homem ou o homem que criou Deus.
– Eu sou vosso cliente há muito tempo, já comprei cá muitos livros, e precisava da sua ajuda. Preciso de uma informação, pode ser? – Sim, claro. – Preciso de uma informação da internet. Procure, por favor, “endereços das igrejas evangélicas no distrito de lisboa”.
– Eu queria um livro… que se chama «Massa». – Massa? Não temos nenhum livro com esse nome. Será «Massas», mais qualquer coisa? – Massa… Pediram-me este livro… – «Massa», só, não temos. – É sobre os judeus… – Sobre os judeus. – Massa… Massada… – Massada?? Com s ou com ç?? – Não sei… Massada… – Ah! Mossad!!
Duas adolescentes. Uma pede-me O Colar, da Sophia de Mello Breyner. Enquanto folheia o livro, vai comentando com a amiga, numa sequência inesquecível de expressões de asco: – Ugh, Ana, isto tem poesia!… Não sei porque é que não nos mandam ler coisas mais interessantes. É só estas porcarias. A amiga, há que dizê-lo, não alinha com ela uma única vez. Entretanto, completo a venda e pergunto-lhe. – Quer o contribuinte na factura? – Não. Diz ela para a amiga: – Eu sei lá o que é o contribuinte.
Acreditava em milagres, é certo, mas, na minha opinião, os milagres jamais perturbarão o realista porque não são eles que o levam a crer. (...) No realista, não é a fé que nasce do milagre, é o milagre que nasce da fé.
Dostoiévski é geralmente considerado um dos maiores psicólogos na história da literatura. Especializou-se na análise de estados patológicos da mente que levam à insanidade, assassínio e suicídio, e na exploração das emoções de humilhação, autodestruição, dominação tirânica e fúria assassina.
As suas grandes obras são também reconhecidas como grandes "romances de ideias" que tratam de questões intemporais de filosofia e política. Psicologia e filosofia estão estreitamente ligadas nos retratos de intelectuais de Dostoiévski, que "sentem ideias" nas profundezas das suas almas. Esses romances inovaram com as suas experiências em forma literária.
Os livros pesam, não só no real, mas também no imaginário.
O mais leve pode-nos pesar a alma por mil anos e o mais pesado pode ser tão leve que ficará para sempre esquecido nos confins do pensamento.
Livros pesados de 599 páginas que nos pesam o corpo, mas ricos em imaginário. Por cada página percorrida pelo olhar ganhamos mais caminho e mais horizonte.
Livros leves não devem ser subestimados também. Muitos querem voar-nos das mãos, enquanto os prendemos firmemente contra ventos fortuitos.
O peso de um livro é como o peso de uma alma. Pesa pelo que se vive dentro das suas páginas.