Sammy Nestico - Samantha
Surripiado de zibaldone.blogs.sapo.pt
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Às 14h00 do dia 29 de maio de 1931, há 85 anos, o público começou a aproximar-se das bancas de livros alinhadas à volta do lago, na zona norte do Rossio, junto ao então Teatro Amélia Rey Colaço.
O Diário de Lisboa descreveu a feira como “uma coisa simpática, limpa, discreta e convidativa” e destacou a sua modernidade, em linha com as últimas tendências internacionais: “O exemplo vem de Paris, de Berlim, de Londres, de Barcelona, de Madrid, de Roma, de Bruxelas, de Moscou, talvez de Tokio, de Pequim e não sabemos se de Nova York. (Pômos estas reservas em Nova York).”
Em Lisboa, o objetivo do certame era fazer “propaganda à instrução e da educação pelos livros”, assumia a Associação.
Havia tudo na Feira: “O livro clássico, o livro moderno, o livro estante e o livro algibeira, o livro para a gente aprender, o livro para a gente se divertir, o livro para a gente tomar contacto com a língua portuguesa pura, o livro para a gente tomar contacto com o estrangeiro mal traduzido, o livro dos mestres eternos, o livro dos plumitivos passageiros”.
Em observador.pt
Inaugurada um mês e meio depois da revolução, a Feira trouxe à rua um sem número de obras proibidas no antigo regime.
“A grade novidade foi a enorme procura de livros políticos entre 1974 e 1980. Foi uma resposta à anterior seca”, explica ao Observador Carlos da Veiga Ferreira, histórico editor da Teorema, atualmente à frente da Teodolito.
“Apareceu ainda outro fenómeno curioso: passaram a publicar-se muitos livros eróticos, entre os quais a trilogia Sexus, Nexus, Plexus, de Henry Miller”, acrescenta.
Entre os títulos de natureza política destacavam-se o Manifesto Comunista, toda a obra de Karl Marx e volumes portugueses como Portugal e o Futuro, de António de Spínola, que fora lançado em março desse ano.
“Os livros políticos já existiam, mas a censura não permitia que fossem publicados e estavam sempre sob ameaça de serem apreendidos”, recorda Zeferino Coelho.
Os anos seguintes viram florescer uma nova literatura livre. “Os escritores da época, como Vergílio Ferreira, Fernando Namora e José Cardoso Pires, adaptaram-se rapidamente à inexistência da censura.”
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Saramago jamais se furtou ao contacto com o público. “Nunca tive um autor tão disponível para colaborar com o editor. Ia dar autógrafos todos os dias, a menos que tivesse um compromisso”, conta ao Observador Zeferino Coelho, um dos mais antigos editores portugueses, responsável pela publicação de todos livros que o Nobel lançou em vida.
O escritor chegava cedo e, em regra, não marcava hora para ir embora.
“Num sábado podia começar a assinar livros às 15h30 e terminar às 20h. Era comum aparecerem 200 ou 300 pessoas. Nunca reclamava: era um cavalheiro, muito bem educado, de trato elegante, sem formalismos. Brincava, dizia anedotas”, acrescenta o editor da Caminho.
Só havia uma coisa que o incomodava verdadeiramente: descobrir na fila um rosto conhecido, de cujo nome, por mais que se esforçasse, não conseguia lembrar-se.
O simples facto de admitir a falha de memória parecia-lhe uma desconsideração. De tal maneira que combinou um esquema com o pessoal da editora. Sempre que isso acontecia, fazia-lhes sinal e logo entrava em ação um aliado que, simpático e conversador, arranjava forma de descobrir o nome em falta.
E assim, quando o amigo se aproximava do Nobel, era recebido como se tivessem estado juntos de véspera e levava para casa um autógrafo personalizado — e com o nome certo, claro.
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Na época, quem ia para a Feira ficava incontactável. “Quando se acabava o stock de um livro, tínhamos de ir à cabine telefónica, com moedas, e ligar para a editora ou para o armazém a pedir mais”, recorda.
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O pavilhão da Dom Quixote foi, durante muito tempo, um dos mais concorridos de todos. E isso não era obra do acaso, mas de um autor em particular: António Lobo Antunes.
A grande estrela da editora nessa altura era o Lobo Antunes.
Tinha filas inacreditáveis de gente à espera de um autógrafo”, diz ao Observador Manuel Alberto Valente, atual diretor da divisão editorial literária da Porto Editora.
Ao contrário de Saramago, que ficava ao ar livre numa mesa entre os pavilhões da Caminho, Lobo Antunes permanecia no interior do stand da Dom Quixote. “A afluência de público era tão grande que criámos um sistema.
As pessoas compravam os livros e escreviam o nome num papel. Os livros eram postos numa pilha e ele ia assinando. Quando estavam prontos, gritava-se o nome do leitor para que fosse buscá-los”, acrescenta.
“Nesses tempos, a Feira era muito frequentada ao serão e fechava à meia-noite. Só que, às vezes, era impossível encerrar a essa hora por causa da quantidade de pessoas que queriam um autógrafo do António.” Invariavelmente, António Lobo Antunes tinha à sua espera um grupo de mulheres que se deixavam ficar até ao fim das sessões.
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