Fiódor Dostoiévski| O indulto que salvou Dostoiévski da morte
A Last Minute Reprieve Saved Fyodor Dostoievski From The Firing Squad-Ralph Bruce, 2013
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A Last Minute Reprieve Saved Fyodor Dostoievski From The Firing Squad-Ralph Bruce, 2013
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Como sabem Dostoiévski foi sentenciado à morte numa farsa teatral.
Anunciaram aos prisioneiros que estes tinham sido condenados à morte, despiram-nos, deixaram-nos apenas em roupa interior a temperaturas desumanas e ataram-nos aos postes de fuzilamento.
Um dos condenados enlouqueceu e Dostoiévski ficou profundamente marcado por este gracejo cruel.
N'O Idiota, que estou a ler neste momento, há uma passagem que descreve os sentimentos do condenado à morte antes da execução. Quero crer que sejam os mesmos que ele sentira naquele dia, antes de partir para a Sibéria:
O homem de que lhes falo foi conduzido um dia ao cadafalso com outros condenados e leram-lhe a sentença que o condenava a ser fuzilado por crime político. Vinte minutos mais tarde notificaram-no de que fora indultado e da comutação da pena.
Durante os quinze ou vinte minutos que se escoaram entre as duas leituras, aquele homem viveu na absoluta convicção de que ia morrer dentro de instantes.
Recordava-se de tudo com extraordinária lucidez e dizia que jamais esqueceria nada do que passara naqueles minutos.
A vinte passos do cadafalso, que a multidão e os soldados rodeavam, tinham erguido três postes, porque alguns condenados tinham de ser passados pelas armas.
Os três primeiros foram conduzidos e agarrados a esses postes, obrigaram-nos a enfiar a vestimenta dos condenados (uma comprida camisa branca); enterraram-lhes até aos olhos gorros brancos para que não vissem as espingardas, depois um pelotão de soldados colocou-se em frente de cada poste.
Um padre passou diante de todos os condenados, com uma cruz na mão.
Restavam-lhe cinco minutos de vida.
Esse homem declarou-me que aqueles cinco minutos lhe pareceram intermináveis e de valor inestimável.
Teve a impressão, naqueles cinco minutos, de que ia viver tão grande número de vidas que não tinha tempo para pensar no último momento. De modo que dividiu o tempo que lhe restava de vida; dois minutos para se despedir dos companheiros, dois minutos para se recolher pela última vez e o resto para lançar à sua volta um último olhar (...)
Mas declarava que nada lhe fora tão penoso como este pensamento:
"Se eu pudesse não morrer| Se me restituíssem a vida! Que eternidade se abriria na minha frente! Transformaria cada minuto num século de vida, não perderia um único e teria em conta cada um deles para não os desperdiçar!"
Essa ideia obcecou-o de tal modo que acabou por desejar que o fuzilassem o mais depressa possível.
Fiódor Dostoiévski-O Idiota
Family portrait by T.Myagkov, 1844
de.wikipedia.org
Todas as personagens dos grandes escritores russos do século XIX se reúnem em torno do samovar.
É perante um chá fumegante que acontecem os melhores diálogos e/ou monólogos da literatura russa.
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