Fiódor Dostoiévski| A chegada à "casa dos mortos"
Sim, há muito tempo.
Hoje, tudo aquilo me parece um sonho.
Revejo a minha chegada à prisão.
Foi numa tarde de Dezembro. A noite estava prestes a cair, os forçados regressavam do trabalho e preparavam-se para a chamada.
Um sargento de grandes bigodes abriu-me finalmente a porta daquela estranha morada, onde eu devia passar tantos anos e suportar tantas emoções que seria incapaz de as compreender se as não tivesse experimentado.
Por exemplo, nunca seria capaz de conceber o tormento medonho de não poder estar só, ainda que apenas por um minuto, durante os dez anos que durou a minha prisão.
Quer no trabalho, debaixo de escolta, quer na prisão, quer no meio dos meus duzentos camaradas, nem uma vez - nem uma vez - estive só!
E, contudo, como isso me era necessário!
Fiódor Dostoiévski-Recordações da Casa dos Mortos
Imagem www.goodreads.com
Priosoneiros de um campo de trabalhos forçados na Sibéria