A situação financeira da família entra em declínio, e começa a fazer pequenos trabalhos para se manter.
Com a ajuda financeira de um empréstimo feito pelo seu irmão Johan, Selma entra para a Kungliga höga lärarinneseminariet, escola que formava professoras e que se preocupava com a causa feminista, incentivando a independência e o progresso social da mulher. Aos 27 anos, concluídos os estudos, é nomeada professora de História em Landskrona, cidade à margem do Öresund. Diz-se que cortou os cabelos, que sempre usara em tranças, num gesto que na época era escandaloso e visto como sinal de emancipação feminina.
Ler Selma Lagerlöf é entrar num mundo cristalino de tranquilidade, de ingenuidade e sorrisos de criança.
Foi uma das autoras que escolhi para intercalar as minhas leituras dos russos, exactamente pela sua leveza.
De todas, as minhas lendas favoritas: A rapariga do Brejo Grande (uma belíssima história de amor); A minha de prata (sobre a cegueira que a riqueza transmite); e O balão (deverão os sonhos ser perseguidos, mesmo quando já foram perdidos?).
Selma Lagerlöf nasceu com um problema na perna esquerda e, aos três anos de idade, viu-se subitamente impedida de andar. Com as pernas inertes, passou a infância sem brincar muito e a ouvir as histórias e lendas contadas pela sua ama, Kaysa.
Era uma criança sossegada, mais séria do que as outras da mesma idade, com um profundo fascínio pela leitura.
Aos 15 anos, depois de ter dedicado toda a infância à leitura, Selma decidiu que seria escritora e passou a escrever milhares de versos. Estava constantemente a escrever poesia, mas nunca publicou nada. Só o fez já muito tarde na vida.
Diz-se que num Verão, viajou com a família para uma estação de águas, em Strömstad, onde conheceu a esposa do capitão de um navio. Quando foi convidada a visitar o navio, Selma viu uma ave-do-paraíso e, na sua inocência infantil, achou-a capaz de fazer milagres, facto que a fez, repentinamente, voltar a andar, apesar de continuar a coxear, por causa das dores que sentia na perna esquerda.
E os nossos compatriotas não se tornam simples ateus, têm «fé» no ateísmo, como se fosse uma nova religião, não se apercebem de que é no nada que edificam a sua fé. Tanta é a nossa necessidade de crer!
Há, por esse mundo, uma multidão de pessoas desta espécie, mais até do que se julga. Dividem-se, como todos os homens, em duas categorias principais: os que são limitaods e os que são «mais inteligentes». Os primeiros são os mais felizes. Um homem «vulgar» de espírito limitado pode muito facilmente julgar-se extraordinário e original, e comprazer-se sem modéstia nesse pensamento.
Bastou a algumas das nossas jovens cortar os cabelos, usar óculos azuis e dizerem-se niilistas para logo se persuadirem de que tais óculos lhes conferiam «convicções» pessoais. Bastou a determinado homem descobrir na sua alma um átomo de sentimento humanitário e bondade para logo garantir que ninguém experimenta semelhante sentimento e que é um pioneiro do progresso social.
Bastou a outro assimilar um pensamento que ouviu formular ou leu num livro sem princípio nem fim, para imaginar que esse pensamento lhe pertence e que germinou no seu cérebro.
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Esta fé cândida e presunçosa de um tolo que não duvida de si nem do seu talento (...)