Nunca li tanto como agora e isto foi o que sempre quis.
Melhor ainda do que a leitura espontânea, sinto-me feliz por ter delineado um plano e estar a segui-lo.
Sempre quis ler os escritores que todos devemos ler, e posso não conseguir ler todos, mas já me sinto feliz por estar a conseguir ler alguns.
A pausa forçada na minha vida profissional foi o momento certo para avançar com os ciclos de leitura que apenas viviam na minha mente e para reavivar este blog que tanto esmorecera nos anos anteriores.
E a seis meses de distância do fim de mais um ano, o de 2016, este foi um desejo concretizado e, espero, em continuum, feito por puro amor à literatura e ao acto de ler.
Não quero, como muitos o fazem, contar os livros que leio por ano. Quero ler perdidamente e perder-lhes a conta na linha do tempo.
Constatei agora que ando completamente à deriva nestes mares de páginas, mas não perdida.
Parecia que a mente se lhe cansara de pensar, de fantasiar. Já não tinha forças nem tempo para isso: a vida de distracção e a sociedade, em que se esforçava por alcançar o papel de homem do mundo, levaram-no para longe do trabalho e da reflexão.
Nisto, parou involuntariamente em frente da venda o jovem pintor Tchartkov. O seu velho capote e o traje nada peralta revelavam um homem devotado incondicionalmente ao seu trabalho e, por conseguinte, sem tempo para se preocupar com o vestuário, preocupação que, de resto, é sempre uma misteriosa atracção para a juventude.
Gogol escreve ocasionalmente para periódicos, em plena fuga da cidade para as suas memórias de infância na Ucrânia.
Desenha por palavras as paisagens luminosas, os camponeses, os meninos em brincadeiras turbulentas, e narra histórias e lendas sobre demónios, bruxas e outras criaturas fantásticas do folclore ucraniano.
Histórias fantásticas do passado que se entrelaçam com eventos reais do presente.
E assim nascem as oito narrativas que compõem Noites na Granja ao Pé de Dikanka, escritas numa prosa viva e coloquial, contribuindo para um novo estilo da literatura russa.
Para além da frescura da espontaneidade do escritor, as delícias do folclore, com palavras e expressões ucranianas, cativaram o mundo literário russo.
Gogol não foi o primeiro filho de sua mãe. Os irmãos morreram doentes durante a infância.
Por isso, a sua mãe faz uma promessa: se conseguir ter um filho saudável e que sobreviva, chamar-lhe-á Nikolai em honra de São Nicolau, o ícone da Igreja de Dikanka.
Gogol cresceu na paisagem campestre ucraniana, por entre os seus coloridos habitantes e tradições cossacas.
Aos 12 anos prossegue os estudos em Nezhin onde se distingue pela sua língua mordaz, pelas suas contribuições de prosa e poesia, bem como pela sua capacidade de retratar homens e mulheres em representações teatrais escolares.
Quando parte para São Petersburgo, viaja na esperança de ingressar no serviço público, mas logo descobre que sem dinheiro, nem contactos influentes, teria de lutar arduamente para ganhar a vida. Tentou, aliás, tornar-se actor, mas a sua audição não foi bem sucedida. Ansioso por alcançar a fama como poeta, publica às suas próprias custas um poema idílico-sentimental, escrito anteriormente na escola, mas a mediocridade do poema levou-o ao fracasso e decidiu queimar todas as cópias.
Desesperado, começa a pensar em emigrar para os Estados Unidos da América. Utiliza o dinheiro que a mãe lhe enviara para pagar a hipoteca da sua quinta e compra um bilhete de barco que o levará até ao porto alemão de Lübeck. Quaisquer que fossem as razões para a sua breve estadia, quando fica sem dinheiro, regressa a São Petersburgo onde consegue um cargo governamental muito mal pago.