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Livrologia

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25
Jul16

Nikolai Gogol| O Retrato

Nunca ninguém falou da arte e da sua beleza como Gogol o faz n'O Retrato.

Gostei tanto, mas tanto de ler todas as suas palavras, que as bebi, que as atirei ao ar para me impregnar nelas, qual perfume de jasmim.

De Gogol, estas foram as palavras mais humanas e, simultaneamente, mais divinas que li. Uma apoteose humana deificada.

Pensei seriamente em roubar o livro à biblioteca e escondê-lo em casa.

Dá-lo como perdido.

Como um perdido que me achou para não mais me abandonar.

Este O Retrato é o mais romântico dos «contos de Petersburgo», quanto mais não seja pelo tema central - o pacto com o demónio. É também uma profunda reflexão sobre a vida e a arte (a arte imitação da natureza ou imitação de Deus?), prefigurando o grande dilema das grandes contradições que envolveram a criação de Almas Mortas (...)

Filipe Guerra

25
Jul16

Na roupa do dia-a-dia não se vêem as manchas

Se um homem sai de casa com o seu fato de cerimónia claro, basta um salpico de lama provocado pela roda de uma carroça para toda a gente o rodear, lhe apontar o dedo e comentar a sua falta de asseio, mas não repara nas muitas nódoas nas roupas de todos os dias que envergam os outros transeuntes. É que na roupa do dia-a-dia não se vêem as manchas.

Nikolai Gogol-O Retrato

25
Jul16

O artista criador é tão grande no ínfimo como no sublime

O teu caminho é puro, não te desvies dele. Tens talento, e o talento é um dom preciosíssimo de Deus, não o deixes perecer. Estuda, investiga tudo o que vês, domina tudo com o teu pincel, mas aprende a encontrar em tudo uma ideia profunda e, antes de mais, tenta compreender o alto mistério da criação. Bendito é o eleito que possui a chave deste mistério. Para ele não há objecto vil na natureza. O artista criador é tão grande no ínfimo como no sublime.

Nikolai Gogol-O Retrato

25
Jul16

O abismo incomensurável entre uma criação artística e uma simples cópia da natureza

Via-se que o pintor, primeiro, dera guarida na sua alma a tudo o que bebera do mundo exterior e que só depois, tirando-o da nascente da alma, o transformara num canto harmonioso e solene.

Aqui ficava claro, mesmo aos olhos dos profanos, o abismo incomensurável entre uma criação artística e uma simples cópia da natureza.

É quase impossível descrever o silêncio invulgar que envolvia todos os que olhavam para o quadro - nem um rocegar, nem um murmúrio; entretanto, o quadro parecia elevar-se cada vez mais, separar-se de tudo cada vez mais milagrosa e claramente, até acabar em fruto do pensamento descido dos céus para alimeto do artista, até ser o instante de que toda uma vida humana foi apenas a preparação.

Nikolai Gogol-O Retrato

25
Jul16

O som do poderoso violino já chega fraco à alma

Já começava, como é costume da gente que atinge determinada idade, a censurar indiscriminadamente a juventude por ser imoral e pelas suas tendências de espírito perniciosas.

Já começava a acreditar que tudo no mundo se fazia naturalmente, que não existia inspiração divina e que tudo devia ser sujeito a uma única ordem rigorosa de pontualidade e de uniformidade.

Enfim, a sua vida já rasava aquela idade em que tudo o que respirava entusiasmo se encolhe, em que o som do poderoso violino já chega fraco à alma e não envolve o coração de melodia penetrante, em que tocar o belo já não transforma as forças virgens em chamas, em que todos os sentimentos embotados se tornam mais sensíveis ao tilintar do ouro, escutam com maior atenção a sua música sedutora e, a pouco e pouco, sem se dar por isso, se deixam adormecer por completo.

 Nikolai Gogol-O Retrato

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