Estantes #058
Imagem www.pinterest.com
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Imagem www.pinterest.com
Nunca mais
quero ler nada.
Livros?
Mais livros para quê?
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Cento e cinquenta mil pessoas passaram à frente do seu caixão nos 3 dias em que ele ficou exposto.
A União Soviética chorava a morte precoce de um dos seus maiores poetas. A sua vida e obra permanecem um emblema deste que foi um dos mais importantes acontecimentos históricos do século 20: a Revolução Russa.
Maiakovski, que sempre teve uma bandeira de luta hasteada no seu coração incendiado, saiu com estrondo do mundo para entrar, também estrondosamente, na História.
Como um dos mais autênticos e vigorosos poetas da Revolução.
In acasadevidro.com
Eu,
o de lábios dourados,
cujas palavras
renovam o espírito
e festejam o corpo,
vos digo:
a mais insignificante partícula de vida
tem mais valor que tudo o que escrevi.
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Provavelmente, ao sentir que a Revolução não era o paraíso libertário que imaginara e que era infeliz no amor, roído pela depressão, Maiakovski optou por matar-se.
Tinha uma certa consciência de que o futuro o aguardava... para entendê-lo.
Mas, depois da sua morte, quando já não incomodava, Estaline transformou-o no poeta da revolução e, numa carta a Iejov, escreveu:
Peço que dê atenção à carta de Lília Brik. Maiakovski foi e continua a ser o melhor e mais talentoso poeta da época soviética. A indiferença para com a sua obra é um crime.
In acervo.revistabula.com
Porque é que Maiakovski se matou, com um tiro no peito, se antes tinha condenado o suicídio do poeta Sierguéi Iessiênin, em 1925?
Mikhailov escreve, com pertinência:
A pessoa que deixa voluntariamente a vida leva consigo o mistério da sua decisão. Nenhuma explicação (inclusivé as de Maiakovski) penetra na essência real da atitude tomada. Elas apenas entreabrem a cortina sobre o segredo, mas o próprio segredo permanece escondido atrás do final triste da vida. (...) Encontramos os motivos, mas o segredo permanece em segredo.
In acervo.revistabula.com
Nos seus últimos anos de vida, Maiakovski parece ter chegado a uma cruel encruzilhada – ele que sempre as enfrentou de peito aberto e com palavras em punho.
Este poeta de coração ardente e impaciente não poderia durar muito:
“Não tenho nenhum fio grisalho na minha alma!”, escreveu.
Quando deu um tiro no peito, em 1930, pôs um sangrento ponto final num destino trágico e fascinante.
In acervo.revistabula.com
Nós,
cada um de nós,
temos na mão
as rédeas de todos os mundos!
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Eu sei
que o sol se eclipsaria ao ver
o oiro que há nas nossas almas!
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Os poemas de Maiakovski destinavam-se a ser declamados.
Para a Rússia, onde a poesia se mantinha ainda na torre de marfim dos simbolistas, Maiakovski teve o grande mérito de trazer a poesia para a rua, criando um dialecto poético com a linguagem coloquial, as tradições populares e a fraseologia política.
O tema básico da poesia de Maiakovski é o Homem e o Mundo.
In Notas Biográficas de Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Foi acima de tudo um revolucionário - poética e socialmente.
A sua poesia é deliberadamente rude, pretendendo chocar o leitor através do uso de palavras consideradas antipoéticas e do abandono de todas as regras.
In Notas Biográficas de Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Já não se pode perdoar nada.
Consumi a alma, onde a ternura crescia.
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Eu, escarnecido pela gente de hoje,
como uma anedota
obscena e sem fim
vejo como caminha pelas montanhas do tempo
alguém a quem ninguém vê.
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Maiakovski nutriu uma grande paixão por duas mulheres casadas — Lília Brik e, nos últimos anos, Verónica Vitoldovna Polonskaia, Nora.
Quis casar-se com Nora, chegou a procurar um apartamento, mas a sua depressão e a sua violência assustadora, num gigante como ele, incomodavam a atriz, que o amava.
In acervo.revistabula.com
Verónica Vitoldovna Polonskaia
Imagem ru.wikipedia.org
As paixões que Maiakovski viveu, quase todas não correspondidas, parecem nunca ter conseguido saciar o seu coração faminto.
Numa carta a Lília Brik, o amor da sua vida, escreveu:
O amor é vida.
O amor é o coração de tudo.
Se ele interromper o seu trabalho, tudo o resto morre, faz-se excessivo, desnecessário. (…)
Sem ti não há vida.
In acasadevidro.com
Digam aos bombeiros:
só com carícias se pode apagar um coração a arder.
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
Dentro da alma de Maiakovski desenhou-se uma contradição cruel entre a utopia e a decepção.
De um lado, uma vida inteira dedicada à Revolução, à glória de Lenine e à construção do socialismo.
Do outro, o aparecimento do espectro do estalinismo, que trazia a ditadura, a burocracia e o eclipse do sonho.
Dividido entre os versos de louvor às conquistas revolucionárias e as sátiras ácidas contra as anomalias do novo poder, Maiakovski viu-se rasgado entre o entusiasmo da entrega total a uma utopia e a tragédia da perda do ideal.
In acasadevidro.com
Apesar das ideias destrutivas relativamente à herança cultural, Maiakovski era um grande conhecedor da literatura clássica.
“Ele ouvia a voz viva dos clássicos, mas negava as imposições dos seus cânones para a arte do seu tempo”, sugere Mikhailov.
Ou, como o próprio Maia dizia: “Eu amo-vos, mas vivos, não como múmias.”
In acasadevidro.com
Liderando a vanguarda futurista, Maiakovski e os seus companheiros colocaram em ebulição a cultura russa.
O escândalo foi enorme.
Foram acusados de terem uma relação niilista com a cultura clássica, de não possuírem uma base teórica sólida ou de serem meros arruaceiros.
O manifesto futurista era mesmo extremista e mandava “atirar fora Pushkin, Dostoiévski e Tolstoi do Navio da Modernidade!”
Burliuk, um dos líderes do movimento justificava-se, dizendo: “Não desejamos virar para trás as nossas cabeças, quebrar as nossas vértebras cervicais para olhar para a poesia com a naftalina dos perversos!”
In acasadevidro.com
Imagem clubedeleituraicarai.blogspot.com
Rangem as portas de repente
como se o hotel
estivesse a bater o dente.
Tu entraste,
brusca como um desafio,
torturando as luvas de camurça,
e disseste:
«Sabes?
Vou-me casar.»
Vladímir Maiakovski
Excerto in Poetas Russos, antologia de Manuel Seabra
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.