Ele é como as folhas de Outono levadas pelo vento, como o voo caprichoso e inconstante das aves que não suspeitam da presença ou da ameaça de outras aves: o pombo não vê o abutre e o abutre ignora o pombo. Ninguém sabe até que ponto pode retardar a hora em que a morte cairá sobre ele.
Mykola Gogol, um homem de uma genialidade incontestável, deixou a sua pátria politicamente morta e partiu para São Petersburgo, a capital de um império que, na opinião de muitos, era uma força unificadora acima dos interesses nacionais locais.
Para Gogol, não foi uma decisão espontânea, tomou esta decisão com um propósito: adoptar formalmente uma literatura estrangeira, neste caso a russa.
Todos os livros que viria a escrever seriam em russo.
No final do século XVII, início do século XVIII, a comunidade cossaca ainda era uma unidade poderosa, mas após a derrota do ucraniano Hetman Ivan Mazepa em Poltava em 1709, seguida pelas medidas repressivas do imperador russo contra os cossacos, bem como a dissolução do Zaporizhian Sich sob a alçada da Imperatriz Catarina II, a comunidade cossaca ficou em ruínas e moralmente despedaçada.
Mykola Gogol é o produto da nobreza ucraniana que estava em declínio, tornando-se num 'novo' estrato social do início do século XIX. Declínio esse encarado como um fenómeno nacional, e, também ele, espiritual.
Os cossacos eram povos nómadas, de origem eslava, que formavam, há cerca de cinco ou seis séculos, colónias militares que viviam no Turquestão ou na Sibéria.
Estes grupos estavam repartidos em secções, de efectivos variáveis, e tinham à cabeça um hetmã (ou atamã), chefe incontestado, que exercia uma autoridade inflexível.
Distinguia estes guerreiros dos demais combatentes (pois outra coisa não eram) a sua incomparável perícia de cavaleiros.
Os cossacos sempre formaram um todo com as suas montadas; dificilmente se pode imaginar um cossaco sem o seu cavalo.