Ler um romance, com as suas imortais personagens, é penetrar em palcos nos quais se condensa todas as formas de vida possíveis, um palco onde se descobre o pensamento de deus antes de existir tudo o que é possível existir mas que tanto pode existir como não existir, um pensamento omnisciente e omnipotente, tornando imutável o que no mundo acontece de modo provisório e contingente. Assim como o fogo de Heraclito, eternamente aceso para quem o quiser ver(...)
Um dos preconceitos mais enraizados e mais geralmente admitidos é o de acreditar que os homens possuem em si qualidades imutáveis: há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e por aí adiante.
Ora os homens não são assim.
Podemos, apenas, dizer que um homem é mais vezes bom que mau, mais vezes inteligente que estúpido, mais vezes enérgico que apático, ou o contrário; mas classificar um homem, como sempre fazemos, de bom ou inteligente e um outro de mau ou estúpido é um erro.
Também os rios, todos de água, são umas vezes mais estreitos, outros rápidos, outras largos ou calmos, transparentes ou frios, caudalosos ou tépidos. Ora os homens são como os rios. Cada um traz consigo a semente de todas as qualidades humanas, de que revela, em certos passos, umas características, noutros, outras, chegando mesmo, em certas ocasiões, a mostrar-se sob uma forma completamente oposta à sua natureza íntima, que, não obstante, mantém.
Ela era digna de pena, sobretudo pela evidente confusão do seu espírito. Julgava-se uma heroína, disposta a sacrificar a vida para conseguir o triunfo das suas ideias, embora fosse pouco provável que pudesse explicar claramente o sentido das ideias que sustentava, e em que consistia o triunfo que para elas ambicionava.