Parada ao lado da porta
A Nancy estava parada ao lado da porta, a olhar para nós, mas era como se tivesse os olhos vazios, como se tivesse deixado de os usar.
Aquele Sol Poente-William Faulkner
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A Nancy estava parada ao lado da porta, a olhar para nós, mas era como se tivesse os olhos vazios, como se tivesse deixado de os usar.
Aquele Sol Poente-William Faulkner
Coronel William Clark Falkner, bisavô do escritor
@www.findagrave.com
O mais velho de quatro filhos de Murry Cuthbert e Maud Butler Falkner, William Faulkner (como mais tarde viria a escrever o seu apelido) estava bem ciente dos seus antecedentes familiares (descendia de uma antiga e ilustre família sulista), especialmente do seu bisavô, o coronel William Clark Falkner, uma figura violenta, quiçá colorida, que galantemente lutou durante a Guerra Civil, construiu o caminho de ferro local e publicou um livro popular e romântico The White Rose of Memphis.
A grandiosidade do "Old Colonel", como todos o chamavam, manteve-se na memória dos seus filhos e netos.
Faulkner abraçou firmemente o legado do seu bisavô e escreveu sobre ele nos seus primeiros livros. Foi retratado como o velho Coronel Sartoris em Sartoris (1929) e em vários outras obras.
Agarrei Tolstoi pela contracapa e suavemente disse-lhe que era tempo de partir.
Dei-lhe a mão e deixei-o à porta da biblioteca por onde entrou sem olhar para trás.
Tanto tempo passado naquelas páginas e nem uma se virou para mim.
Nem um aceno. Egoístas os livros.
Só pensam no próximo leitor.
E abri a página do próximo livro.
Rowan Oak, Casa de William Faulkner em Oxford Mississípi © Charles & Mary Love | www.thealleycatblog.com
Localizada a cerca de uma hora de carro de Memphis (Mississippi, EUA), Oxford seria mais uma pacata cidadezinha sulista se não fosse por dois factos: ser a sede da Universidade do Mississípi e a terra natal de William Faulkner.
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Mais conhecida como “Ole Miss”, a universidade movimenta a vida cultural e económica de Oxford, que tem cerca de 50 mil habitantes. Em 1962, a instituição entrou para a história dos direitos civis quando o aluno James Meredith entrou escoltado por tropas federais para garantir a sua segurança na sala de aula. Foi o primeiro afro-americano a frequentar a universidade.
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Oxford faz parte do condado de Lafayette, fundado em 1830 numa área que pertencia ao povo indígena Chickasaw, que foi expulso. Os nativos chamavam-na de Yoknapatawpha, o que significa “terra arruinada”, e que dá nome a um afluente do rio Mississípi.
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Na primeira metade do século XIX, as fazendas de algodão movidas a trabalho escravo fizeram a riqueza da aristocracia. mas durante a Guerra da Secessão (1861-1865), Oxford foi saqueada e queimada pelas tropas do norte. Os edifícios da universidade tornaram-se hospitais temporários para cuidar dos feridos. Depois do conflito, a segregação racial, a decadência e a pobreza marcariam os anos seguintes.
Tudo isso inspirou Faulkner a criar Yoknapatawpha, o condado fictício da cidade de Jefferson que aparece na maioria das suas obras e que, nas palavras do escritor, seria o “selo postal do seu solo nativo”. O território representaria o micro cosmos da vida do sul nos Estados Unidos e as suas feridas do passado, como a guerra e a violenta sociedade escravocrata.
To understand the world, you must first understand a place like Mississippi.
...disse Faulkner.
Excertos adaptados de roteirosliterarios.com.br
William Faulkner fotografado por Henri Cartier Bresson | roteirosliterarios.com.br
William Faulkner, vencedor do Prémio Nobel, nasceu em New Albany, Mississípi, em 1897. Muitos dos seus primeiros trabalhos foram poesia, mas tornou-se famoso pelos seus romances ambientados no sul dos Estados Unidos, geralmente em Yoknapatawpha County, um condado fictício criado por ele.
Apesar de Faulkner ter nascido trinta anos depois do sul dos Estados Unidos ter sido derrotado na Guerra Civil Americana/Guerra da Secessão, a sua escrita foi não só influenciada pelo Mississípi pós-guerra, mas também pelo Mississípi antes do confronto.
Faulkner não tentou descrever, nem reproduzir a situação do sul decadente, pelo contrário, procurou refazê-la, reconstruí-la através de uma incansável reconstituição de factos e pessoas, sempre em busca das suas raízes mais profundas.
Nietzsche sobre Dostoiévski:
O único psicólogo com quem tenho algo a aprender.
Sou um homem ridículo. Agora já quase me têm por louco. O que significaria ter ganho em consideração, se não continuasse sendo um homem ridículo. Mas eu já não me aborreço por causa disso, agora já não guardo rancor a ninguém e gosto de toda a gente, ainda que se riam de mim.
in O Sonho de um Homem Ridículo-Fiódor Dostoiévski
Descobrir com o sonho deste homem ridículo que a autocomiseração é a forma mais covarde de viver.
Percebe-se então por que este homem está desesperado. Ele não compreendeu a importância da primeira parte do mandamento. Para ele, a solução do mundo depende, única e exclusivamente, do homem. No final do texto ele afirma que a causa de todos os problemas é o facto de que os homens colocam o conhecimento da vida acima da própria vida; o conhecimento da lei da felicidade acima da própria felicidade. Bastaria, portanto, que os homens se preocupassem em aprender a amar, e não em aprender sobre o amor.
O sonho de um homem ridículo é classificado como um “conto fantástico”, ou seja, só existe na imaginação. Mas, finda a sua leitura, fico com a impressão de que há muitos homens ridículos neste mundo, e me parece que eu mesmo sou um deles.
Senti, de um momento para o outro, que tudo me era indiferente, que tanto me fazia que o mundo existisse como não.
Pouco a pouco passava a ver e a sentir que nada havia fora de mim.
Parecia-me que, de facto, a princípio, existiam muitas coisas, mas adivinhei igualmente a seguir, que antes também nada houvera, e que se assim me parecera foi por alguma razão. E, pouco a pouco, fui-me convencendo de que daí para diante também nada haveria.
O Sonho de um Homem Ridículo-Fiódor Dostoiévski
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