Os escrúpulos ou a ausência deles, é a dúvida que fica a pairar sobre Don Sebastian, um espanhol com salero suficiente para fazer dançar um morto em pasodoble.
Oferecendo-me um cigarro, abriu uma gaveta de onde extraiu um manuscrito desbotado pelo tempo.
- Aqui tem o tal manuscrito - disse. - Essas letras torcidas e fantásticas são horríveis. Às vezes, chego a perguntar a mim próprio se quem as escrevia conseguia decifrá-las.
Os Escrúpulos de Don Sebastian-W. Somerset Maugham
As ruas estreitas e tortuosas, eram pavimentadas de seixo rolado e de tal maneira íngremes que o carregador mais se dobrou, arquejando ao peso da carga.
Com a mala às costas, dir-se-ia um gnomo corcunda, uma figura de pesadelo.
De um lado e outro das ruas erguiam-se altos edifícios, tortos e irregulares, que em cima se inclinavam de tal modo uns para os outros que nem as nuvens conseguíamos ver.
As janelas dessas mesmas casas eram de grandes dimensões e assemelhavam-se, escancaradas e negras, a bocas de gigantes.
Os Escrúpulos de Don Sebastian-W. Somerset Maugham
Vivia ele então dos contos que conseguia vender a revistas e jornais.
O primeiro conto que Maugham publicou foi Os Escrúpulos de Don Sebastian.
Maugham preferiu nunca mais os reeditar, tendo mesmo afirmado:
Quando muito jovem, escrevi um certo número de contos tão pouco amadurecidos que prefiro não os reeditar. Alguns fazem parte de um livro há muito fora do mercado e outros encontram-se dispersos por várias revistas. Já toda a gente os esqueceu.
Maugham considerava desonesto, tanto para ele como para os leitores, reeditar contos que, como autor, o não satisfaziam.
Craig Showalter
in Dezessete Histórias Perdidas de Somerset Maugham