Com a A Lua e Cinco Tostões tenho-me sentido mais próxima de Maugham, especialmente porque o narrador é também ele escritor.
Pelo buraco desta fechadura que o narrador vai rodando ao longo destas páginas, (nunca o confundindo com o seu criador, apesar da tentação) espreitamos estes apontamentos rabiscados sobre o processo de criação.
Da pintura à escrita, do pintor à persona do escritor, da selva de pensamentos às conversas ensaiadas do meio literário, arrancam-se máscaras à arte, revelando-se a monstruosidade que cada artista guarda dentro de si e a força que o impele a transpô-la para uma tela ou para o papel. Porque a arte criada é sempre o amansar do monstro criador.
Quando as pessoas dizem que não se importam com o que os outros possam dizer delas, estão quase sempre a enganar-se a si próprias. Geralmente isso apenas quer dizer que fazem o que lhes apetece, confiantes de que ninguém virá a saber das suas excentricidades; ou, quando muito, que só estão dispostas a agir contrariamente à opinião da maioria porque têm o apoio e aprovação dos que lhe são mais próximos.
Não é difícil ser-se original aos olhos do mundo, quando essa originalidade não passa da convencionalidade do grupo a que pertencemos.
A conversão pode chegar de muitas formas e consumar-se de muitas maneiras. Com alguns homens é preciso um cataclismo, como rocha fragmentada em mil pedaços pela fúria da torrente; com outros, porém, vai chegando aos poucos, como rocha desgastada por incessante gota de água.