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Livrologia

Livrologia

31
Mar19

Clarice dá tanto aos outros, e no entanto pede licença para existir

Dias depois a moça apareceu em casa para tomar um café comigo e perguntei-lhe se havia entregue o livro a Dr. Lourival. Ela disse que sim e que, ao ler a dedicatória, ele fizera um comentário.

Fiquei curiosa, quis saber o que ele dissera. E fiquei sabendo que, ao ler a dedicatória, Dr. Lourival tinha dito: «Clarice dá tanto aos outros, e no entanto pede licença para existir.»

 

in  A Opinião de um Analista sobre Mim

A Descoberta do Mundo (Crónicas) - Clarice Lispector

31
Mar19

Clarice Lispector | A carta a Getúlio Vargas

Resultado de imagem para clarice getúlio vargas

@ correioims.com.br

 

Clarice e Maury queriam muito casar-se.

Em 1940 Maury obtém a aprovação no exame, tornando-se em diplomata brasileiro, mas à luz da legislação da época, não podia casar-se com uma estrangeira, visto que Clarice ainda não se tinha naturalizado brasileira.

 

Logo que completa os 21 anos, a escritora faz o requerimento para obter a nacionalidade brasileira. A urgência em casar com Maury - que brevemente seria destacado para um país estrangeiro como diplomata - fez com que decidisse escrever uma carta ao então presidente Getúlio Vargas. 

 

Rio de Janeiro, 3 de junho de 1942

 

Senhor presidente Getúlio Vargas,

Quem lhe escreve é uma jornalista, ex-redatora da Agência Na­cional (Departamento de Imprensa e Propaganda), atualmente n’A Noite, acadêmica da Faculdade Nacional de Direito e, casual­mente, russa também.

 

Uma russa de 21 anos de idade e que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses. Que não conhece uma só palavra de russo mas que pensa, fala, escreve e age em português, fazendo disso sua profissão e nisso pousando todos os projetos do seu futuro, próximo ou longínquo. Que não tem pai nem mãe – o primeiro, assim como as irmãs da signatária, brasileiro naturalizado – e que por isso não se sente de modo algum presa ao país de onde veio, nem sequer por ouvir relatos sobre ele. Que deseja casar-se com brasileiro e ter filhos brasileiros. Que, se fosse obrigada a voltar à Rússia, lá se sentiria irremediavelmente estrangeira, sem amigos, sem profissão, sem esperanças.

 

Senhor presidente. Não pretendo afirmar que tenho prestado grandes serviços à Nação – requisito que poderia alegar para ter di­reito de pedir a vossa excelência a dispensa de um ano de prazo, necessário a minha naturalização. Sou jovem e, salvo em ato de heroísmo, não poderia ter servido ao Brasil senão fragilmente. Demonstrei minha ligação com esta terra e meu desejo de servi-la, cooperan­do com o DIP, por meio de reportagens e artigos, distribuídos aos jornais do Rio e dos Estados, na divulgação e na propaganda do governo de vossa excelência. E, de um modo geral, trabalhando na impren­sa diária, o grande elemento de aproximação entre governo e povo.

 

Como jornalista, tomei parte em comemorações das grandes datas nacionais, participei da inauguração de inúmeras obras ini­ciadas por vossa excelência, e estive mesmo ao lado de vossa excelência mais de uma vez, sendo que a última em lº de maio de 1941, Dia do Trabalho.

 

Se trago a vossa excelência o resumo dos meus trabalhos jornalísticos não é para pedir-lhe, como recompensa, o direito de ser brasileira. Prestei esses serviços espontânea e naturalmente, e nem poderia deixar de executá-los. Se neles falo é para atestar que já sou bra­sileira.

 

Posso apresentar provas materiais de tudo o que afirmo. In­felizmente, o que não posso provar materialmente – e que, no entanto, é o que mais importa – é que tudo que fiz tinha como núcleo minha real união com o país e que não possuo, nem elege­ria, outra pátria senão o Brasil.

 

Senhor presidente. Tomo a liberdade de solicitar a vossa excelência a dispensa do prazo de um ano, que se deve seguir ao processo que atualmente transita pelo Ministério da Justiça, com todos os re­quisitos satisfeitos. Poderei trabalhar, formar-me, fazer os indis­pensáveis projetos para o futuro, com segurança e estabilidade. A assinatura de vossa excelência tornará de direito uma situação de fato. Creia-me, senhor presidente, ela alargará minha vida. E um dia saberei provar que não a usei inutilmente.

 

Clarice Lispector

Carta @ correioims.com.br

31
Mar19

É intolerável o endeusamento afoito que constrange e tira a espontaneidade

Arthur Rackham - Illustration from Maid Male

@ www.pinterest.pt

 

O meu ideal absurdo de luxo seria ter uma espécie de governanta-secretária que tomasse conta de toda a minha vida externa, inclusive indo por mim a certas festas.

Que ao mesmo tempo me adorasse - mas eu exigiria ainda por cima que me adorasse com discrição, é intolerável o endeusamento afoito que constrange e tira a espontaneidade, e não nos dá o direito de ter os defeitos natos e adquiridos nos quais tão ciosamente nos apoiamos - nossos defeitos também servem de muletas, não só as nossas qualidades.

 

in  Ideal Burguês

A Descoberta do Mundo (Crónicas) - Clarice Lispector

30
Mar19

Sophia de Mello Breyner Andresen | Geografia

Senti Sophia diferente quando li Geografia.

Não sei se pelos poemas sobre a Grécia derivados da sua viagem ao paísem 1963, se dos poemas interventivos, se da sua arte poética, descrita em algumas das páginas deste livro, encontrei uma Sophia menos etérea e mais presente:

 

Trata-se de um livro cujo carisma de perfeição tenho vindo a confirmar renovadamente através de sucessivas releituras ao longo de várias décadas: livro onde não encontro somente alguns dos momentos mais altos da obra da autora, porque nele se encontram alguns dos momentos mais extraordinários de toda a história da poesia em língua portuguesa.

Digo mais: "Geografia" contém enunciados poéticos que disputam com famosos versos de Virgílio, de Racine e de Keats a palma do verso mais belo da literatura universal.

-Frederico Lourenço

Pág. 1/31

Quanto mais leio menos sei
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