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Livrologia

Livrologia

23
Abr19

Quantas mentiras sou obrigada a dar

Quantas mentiras sou obrigada a dar. Mas comigo mesma é que eu queria não ser obrigada a mentir. Senão, o que me resta? A verdade é o resíduo final de todas as coisas e no meu inconsciente está a verdade que é a mesma do mundo.

 

in  Brain Storm

A Descoberta do Mundo (Crónicas) - Clarice Lispector

23
Abr19

Dia Mundial do Livro

Quis escrever hoje uma carta de amor a todos os livros que amei, mas falham-me as palavras.

Como em todos os grandes amores as palavras são sempre pequenas demais e ficam sempre aquém, perdidas em promessas vãs.

 

Não prometo, leio.

Só assim sei amar livros.

 

É na palavra oca sem significado e no acto ausente nunca cumprido que reside o ridículo da carta de amor.

Por isso, não a escreverei hoje.

Vou ler.

23
Abr19

5.º Motivo da Rosa

Endpaper - A Masque of Days, illustrations by Walter Crane.@ www.pinterest.pt

 

Antes do teu olhar, não era,

nem será depois - primavera.

Pois vivemos do que perdura,

 

não do que fomos. Desse acaso

do que foi visto e amado: - o prazo

do Criador na criatura...

 

Não sou eu, mas sim o perfume

que em ti me conserva e resume

o resto, que as horas consomem.

 

Mas não chores, que no meu dia

há mais sonho e sabedoria

que nos vagos séculos do homem.

 

Antologia Poética - Cecília Meireles

22
Abr19

Transeunte

Venho de caminhar por estas ruas.

Tristeza e mágoa. Mágoa e tristeza.

Tenho vergonha dos meus sonhos de beleza.

 

Caminham sombras duas a duas,

felizes só de serem infelizes,

e sem dizerem, boca minha, o que tu dizes...

 

De não saberem, simples e nuas,

coisas da alma e do pensamento,

e que tudo foi pó e que tudo é do vento...

 

Felizes com as misérias suas,

como eu não poderia ser com a glória,

porque tenho intuições, porque tenho memória...

 

Porque abraçada nos braços meus,

porque, obediente à minha solidão,

vivo construindo apenas Deus...

 

Antologia Poética - Cecília Meireles

22
Abr19

4.º Motivo da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.

 

Rosas verás, só de cinza franzida,

mortas intactas pelo teu jardim.

 

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,

ao longe, o vento vai falando em mim.

 

E por perder-me é que me vão lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

 

Antologia Poética - Cecília Meireles

22
Abr19

Cecília Meireles | A solidão imposta pelo Destino

Imagem relacionada@ www.pinterest.pt

 

Cecília cedo foi marcada pela orfandade, uma solidão imposta pelo Destino, tatuando de melancolia todas as palavras que viria a escrever.

 

Se tivermos presentes as sombrias condições em que decorreram a infância e a adolescência de Cecília Meireles: filha póstuma, orfã de mãe aos três anos, filha única depois de ter morrido sua única irmã que julgo não chegou a conhecer, educada com a avó materna que não podia deixar de a rodear das presenças apenas sombras de tantos mortos.

- José Bento

 

Uma infância marcada pela perda profunda das pessoas que teriam sido os seus pilares: o pai e a mãe.

O pai, funcionário do Banco do Brasil, morre quando Cecília estava ainda dentro da barriga da mãe. Três meses depois viria a nascer, à luz da tristeza e solidão da mãe. 

Matilde Meireles vivera também perdas profundas antes do nascimento da sua filha Cecília. Já tinha perdido os seus outros filhos Carlos, Vítor e Carmem.  Com Cecília seriam quatro filhos, mas nunca chegaram a ser dois sequer, porque, mal nascia um, o outro já tinha morrido.

 

Cecília nasce assim num mundo de luto e ausência, de solidões inevitáveis, de melancolias inadiáveis:

A menina de preto ficou morando atrás do tempo,

sentada no banco, debaixo da árvore

recebendo todo  o céu nos grandes olhos admirados.

Alguém passou de manso, com grandes nuvens no vestido,

e parou diante dela, e ela, sem que ninguém falasse,

murmurou: «A MAMÃE MORREU».

Já ninguém passa mais, e ela não fala mais, também.

O olhar caiu dos seus olhos, e está no chão, com as outras pedras,

escutando na terra aquele dia que não dorme

com as três palavras que ficaram por ali.

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
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