O conhecimento desse mundo de luto e de ausência, de nomes sem ninguém a quem pertencessem e de uma solidão que não podia ser completamente evitada pela avó de quem dirá "foi lição tua chorar pouco, para sofrer mais".
Gostava de conhecer o rosto de uma das pessoas mais importantes da sua vida, mas foi em vão que procurei uma foto da avó de Cecília.
Não a encontrei.
Não lhe conheço o olhar, o contorno do rosto, as ondas do cabelo.
Mas esta mulher, que foi mãe duas vezes, foi uma das pessoas mais importantes na vida de Cecília e que mais a marcaram.
Jacinta Garcia Benevides, portuguesa, nascida na Ilha de São Miguel, Açores, viúva e única sobrevivente da família, acolheu-a na sua casa do Rio de Janeiro e criou-a com a ajuda de Pedrina, a ama de Cecília, que lhe contava histórias para adormecer.
Gosto de imaginar que num triste e belo dia, D. Jacinta tenha sofrido duas vezes as agonias do parto.
A dor da perda da filha, de quem morreria de saudades no seu luto.
E, sem tempo para o luto, a dor e a felicidade de abraçar a neta, filha dela também, a quem terá amado extravagantemente, à sua maneira. Cecília o espelho vivo da filha que perdera e a filha que conseguira ressuscitar para a vida.
Quero crer que D. Jacinta tenha sido como todas as outras avós do mundo, na intemporalidade que atravessa os tempos:
Tenho a certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São como amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.