Pântano
Prometo que não se vão afundar em areias movediças, nem em águas turvas.
Vão encontrar um blog apologista da simplicidade, em que o pouco que se escreve é o muito que se diz.
Percam-se no Pântano.
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Prometo que não se vão afundar em areias movediças, nem em águas turvas.
Vão encontrar um blog apologista da simplicidade, em que o pouco que se escreve é o muito que se diz.
Percam-se no Pântano.
Desde que comecei a ler alternadamente Clarice e Cecília, ambas se passeiam pelo meu pensamento, como se não as conseguisse dissociar.
Não se contagiam uma à outra, nem se complementam, pelo contrário, existem em diferentes universos paralelos, tocando-se por brevíssimos momentos da mesma existência. E um desses brevíssimos instantes em que se tocam é na tirania da ausência.
Estas duas mulheres nasceram de ausências biográficas e viveram em ausência na escrita, elevando-se como deusas nos seus próprios termos.
São tantos os poemas que gosto de Cecília, que um dia vou emoldurá-los. Restará apenas o colorido dos seus versos na minha parede branca. Vou ter de equacionar esta ideia seriamente e decorar as paredes com poemas.
Ah, se eu pudesse confessar-me seria este o poema da minha Confissão.
Aliás, mais do que uma confissão é a síntese dos últimos anos que tenho vivido. Não sei como cheguei aqui, a este momento, ao agora, mas cheguei sã e salva e é tudo o que importa.
De tanto querer ser boa,
misturei o céu com a terra,
e por uma coisa à-toa
levei meus anjos à guerra.
Onde errei?
Errei ao tentar ser alguém que não eu.
Talvez o mundo nascesse certo/ mas depois ficou errado.
Sou mais eu agora, do que fui.
E prometo não deixar de o ser, por nada nem ninguém.
Pus caleidoscópios de estrelas
entre cegos de ambas as vistas.
Geometrias imprevistas,
quem se inclinou para vê-las?
Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio, sempre sem jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas.
Mas o esforço de nadar contra a doce corrente tira parte de minha força vital. E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio da acção, perco interiormente uma coisa muito suave de se ser e que nada substitui.
Mas um dia hei de ir, sem me importar para onde o ir me levará.
in Ir contra uma maré
A Descoberta do Mundo (Crónicas) - Clarice Lispector
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