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Livrologia

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29
Nov19

Desafio de escrita dos pássaros #12

Pássaros que não se calam para crianças tagarelas

Có, có, ró, có.

Tenho asas e não voo

Canto cedo e não me calo

Sou galinha, ponho ovo

E namoro com o galo

 

Glu gluuu gluuu!

A galinha não se cala

Chamou-me canguru

Mas prefiro ser um coala

- gorgoleja o peru

 

Crrác crrác! 

Sou pássaro falador

Falo tanto que até desmaio

Tenho penas cheias de cor

OLÁ, sou o papagaio

 

Cuá, cuá, cuá!

Sou pássaro mágico e profeta

Negro como a noite o meu corpo 

Voando no verso de um poeta 

Na rima serei sempre o corvo

 

Grou, grou! gru, ru, gru ru! ru lu!

De asa branca ou correio

Estou sempre a namoriscar

Ou à procura de migalhas

Sou pombo no arrulhar

 

Piu-piu piopio, pipio!

Pássaro sou e serei

De chilreio, assobio e canto

Para sempre cantarei

Mas males não espanto

28
Nov19

O vestido, em vez de celebrá-la, matava-a

con1.png

- Quem é aquela rapariga com um horrível vestido lilás?

-Sophia de Mello Breyner Andresen-

 

Dos três objectos que marcam simbolicamente este conto de Sophia - o vestido tem sido o mais incompreendido.

O vestido é a persona da Gata Borralheira, a ponte entre o seu mundo interior e o mundo que a observa, uma espécie de máscara projectada para fazer uma impressão definitiva sobre os outros e para dissimular a sua verdadeira natureza.

No caso de Lúcia, a madrinha emprestou-lhe um vestido que era feio, antiquado e lilás. O vestido, em vez de celebrá-la, matava-a e a cor lilás, um paramento fúnebre que a envolvia, simbolizando a sua condição já morta num mundo onde ela jamais seria aceite. E foi o vestido que provocou a sua derradeira decisão:

Tenho de escolher outro caminho. Um dia hei-de voltar aqui com um vestido maravilhoso e com sapatos bordados de brilhantes.

28
Nov19

O poder que desejava

Aquele baile, aquela gente que a ignorara e humilhara era o mundo que ela decidira escolher. Aqueles eram os vestidos, os sapatos, as jóias que ela queria possuir. Aquele o poder que desejava.

 

História da Gata Borralheira - Sophia de Mello Breyner Andresen

in Histórias da Terra e do Mar

27
Nov19

Trocar tudo isso

Mas algo nela hesitava: deixar a sua casa, aqueles que a amavam, deixar a doce liberdade familiar - entre a aérea distracção do pai, os irmãos descendo como bólides pelo corrimão, o desleixo das criadas velhas, os quartos onde o papel se descolava da parede, a sala onde a seda dos cortinados se esgarçava e trocar tudo isso, que era quente, vivo e livre, pela minuciosa tirania da tia rica e pelos seus discursos de prudência e cálculo, era difícil.

Mas ela não queria renunciar ao outro caminho.

 

História da Gata Borralheira - Sophia de Mello Breyner Andresen

in Histórias da Terra e do Mar

27
Nov19

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó

bandeira.png

Das três mulheres que me deram a conhecer Manuel Bandeira através das suas páginas, já tinha revelado duas delas: Cecília Meireles e Clarice Lispector

Chegou o momento de revelar como Sophia me desvendou Manuel Bandeira. 

Sophia amava tanto a poesia que sempre leu outras poetisas e poetas.

Chegou a escrever um ensaio sobre Cecília Meireles - A poesia de Cecília Meireles - onde revela que "falar de um poeta é como querer apanhar água com as mãos. Prendemos só as nossas próprias palavras, enquanto o poeta nos foge. Só em poesia se pode falar de poesia".

E foi assim que Sophia me contou sobre Manuel Bandeira e como era imperativo lê-lo, através de um poema:

 

Este poeta está
Do outro lado do mar
Mas reconheço a sua voz há muitos anos
E digo ao silêncio os seus versos devagar

(...)

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó
Quando em manhãs intactas e perdidas
No quarto já então pleno de futura
Saudade
Eu lia

(...)

Estes poemas caminharam comigo e com a brisa
Nos passeados campos de minha juventude
Estes poemas poisaram a sua mão sobre o meu ombro
E foram parte do tempo respirado.

26
Nov19

Velha Chácara

A casa era por aqui...

Onde? Procuro-a e não acho.

Ouço uma voz que esqueci:

É a voz deste mesmo riacho.

 

Ah quanto tempo passou!

(Foram mais de cinquenta anos)

Tantos que a morte levou!

(E a vida... nos desenganos...)

 

A usura fez tábua rasa

Da velha chácara triste:

Não existe mais a casa...

 

- Mas o menino ainda existe.

 

in Lira dos Cinquent'anos

Antologia - Manuel Bandeira

Pág. 1/8

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
Cinema e literatura num só.
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