Olhavam-no, como os pintores muitas vezes olham os escritores, com desprezo por ele ser um leigo, com tolerância porque praticava uma arte, e com admiração por fazer uso de um meio no qual não se sentiam à vontade.
Quando, em homenagem à Sophia, preparávamos o espectáculo Austeros Sinais, um dia, disse-nos ela que estava a escrever uma peça de teatro: O Colar. E deu-nos a ler o primeiro acto.
Perguntava se gostávamos. Pedimos-lhe que acabasse porque a queríamos representar. Foi aí que surgiu a ideia deste espectáculo.
Daí para a frente todos os anos programámos O Colar. Esperámos o tempo que a Sophia quis para acabar a peça.
Houve várias versões do segundo acto. Finalmente chegou esta peça em três estranhos e diferentes actos. Que com grande alegria levámos à cena.
E com o temor de quem lhe parece ter entre mãos uma coisa muito frágil e muito preciosa.
Neste último conto das Histórias da Terra e do Mar há uma pequena povoação do nordeste transmontano, onde o tempo parece ter parado, onde tudo permanece imutável, onde o tempo se perdeu.
Vila D' Arcos está mergulhada nesta irrealidade perfeita de isolamento silencioso, o Paraíso de uma terra pequena, cujos limites serão sempre as grades da sua pequenez agrilhoada.
Sophia escreveu apenas cinco peças de teatro, mas poderia ter escrito muitas mais.
Quer os seus poemas, quer os seus contos têm uma forte componente visual e de movimento que nos levam a participar cinematograficamente nos seus imaginários. Arriscaria dizer que a escrita de Sophia é um animatógrafo de palavras, de olhares, de sentidos.
Bastasse o seu querer e poderia ter escrito mais teatro, ainda assim a sua ligação ao teatro foi muito mais abrangente não só com textos e intervenções criativas e/ou críticas teatrais, mas também com a sua Recriação Poética da Tragédia de Eurípides revelando uma vez mais o seu amor pela Grécia.