Mas neste largo do Arouche posso abrir meu guarda-chuva paradoxal, este lírico plátano de rendas mar... Ali em frente... — Mário, põe a máscara! — Tens razão, minha Loucura, tens razão.
Mulher mais longa que os pasmos alucinados das torres de São Bento! Mulher feita de asfalto e de lamas de várzea, toda insultos nos olhos, toda convites nessa boca louca de rubores!
Um dos poemas mais marcantes de Pauliceia Desvairada é Ode ao Burguês, um poema-caricatura do burguês e uma crítica socialmente acérrima.
Mário de Andrade ridiculariza os burgueses, cujas barrigas crescem na mesma proporção em que os cérebros definham.
O próprio poeta declamou este poema durante a Semana de Arte Moderna de 1922, perante uma plateia que era o alvo dos seus versos:
Eu insulto o burguês!
Mário de Andrade foi vaiado pelos convidados, alguns dos quais tinham contribuído financeiramente para a realização do evento, que não aceitaram a crítica de bom grado.
O poema foi sentido como uma violenta declaração de ódio à aristocracia e à burguesia de São Paulo, pela sua incapacidade de sonhar e de valorizar a espiritualidade. Aliás, o poema é quase um panfleto político contra a sua obsessão pelas aparências e incapacidade de humanidade.
Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre sol!
Lembras-te? As barcarolas dos céus azuis nas águas verdes... Verde — cor dos olhos dos loucos! As cascatas das violetas para os lagos... Primaveral — cor dos olhos dos loucos!
No Dia da Liberdade cantámos à janela das paredes que nos confinam.
A Liberdade tão apregoada será diferente - já o é - e retira-nos cada vez mais privacidade, cada vez mais mobilidade e quando queremos usá-la somos catalogados de desobedientes ou loucos.
Vivemos uma Liberdade não só confinada, mas também calada. Calada pelo mesmo medo que o Dia da Liberdade outrora libertou. Podemos dizer que hoje o medo é outro, mas na sua essência é também ele ditatorial.