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Livrologia

Livrologia

31
Ago20

Cada lugar aonde chego é uma surpresa

Cada lugar aonde chego é uma surpresa e uma maneira diferente de ver os homens e coisas.

Viajar para mim nunca foi turismo. Jamais tirei fotografia de país exótico.

Viagem é alongamento de horizonte humano.

Na Índia foi onde me senti mais dentro de meu mundo interior. As canções de Tagore, que tanta gente canta como folclore, tudo na Índia me dá uma sensação de levitar. Note que não visitei ali nem templos nem faquires.

O impacto de Israel também foi muito forte. De um lado, aqueles homens construindo, com entusiasmo e vibração, um país em que brotam flores no deserto e cultura nas universidades. Por outro lado, aquela humanidade que vem à tona pelas escavações. Ver sair aqueles jarros, aqueles textos sagrados, o mundo dos profetas. Pisar onde pisou Isaías, andar onde andou Jeremias … Visitar Nazaré, os lugares santos!

A Holanda me faz desconfiar de que devo ter parentes antigos flamengos. Em Amsterdã, passei quinze dias sem dormir. Me dava a impressão de que não estava num mundo de gente. Parecia que eu vivia dentro de gravuras.

Quanto a Portugal, basta dizer que minha avó falava como Camões. Foi ela quem me chamou a atenção para a Índia, o Oriente: “Cata, cata, que é viagem da Índia”, dizia ela, em linguagem náutica, creio, quando tinha pressa de algo, chá-da-Índia, narrativas, passado, tudo me levava, ao mesmo tempo à Índia e a Portugal.

Cecília Meireles in Última Entrevista

@ Revista Bula

30
Ago20

Em plena época de tontices

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Em plena época de tontices, Agosto não se deixou ficar atrás do mês passado e continua imparável no seu despropósito, não estivéssemos em 2020.

 

☼ Há uma pequena probabilidade de um asteróide atingir a Terra em Novembro, segundo a NASA, o que seria excelente para acabar 2020 em grande. Infelizmente a única solução para todos os problemas da humanidade é estatisticamente remota e não apresenta uma ameaça para a Terra! 

 

☼ Rui Pinto admitiu ser um pirata informático e que a culpa foi das vítimas que lhe deram facilmente acesso aos seus emails. Os psicopatas também dizem o mesmo para justificarem os seus crimes. De qualquer modo, qual Robin Hood, alegou que a sua culpa deveria ser diminuída, porque os seus motivos eram nobres, o de revelar crimes. Ainda bem que Rui Pinto está do lado do bem, o que quer que isso signifique.

 

☼ Graça Freitas anda de cabeça perdida e não sabe muito bem o que fazer com a Festa do Avante. Provavelmente não sabe bem o que é nem para que serve. Nós também não.

29
Ago20

Os velhotes não são tão fofinhos e não ficam bem nas selfies

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António Costa é a minha pessoa favorita do mês.

Para além de ser uma galinha, que grão a grão vai enchendo o papo de arrogância incontestável, é também burro velho que nenhuma albarda nova disfarça e que de tanto assobiar deixa fugir as cabras pela boca fora.

Bastassem os provérbios para transmitir sabedoria a S. Bento e bom senso, só que vozes de sábio não chegam ao céu de quem não quer saber.

E perante uma catástrofe humanitária a Ordem dos Médicos agiu depressa, tão depressa que ninguém percebeu bem de onde veio tamanha competência: faz uma inspecção urgente ao Lar de Reguengos, descreve num relatório a situação dramática e faz chegar o caso às autoridades.

A Ordem dos Médicos quis ser mais costista que Costa e arrasou com um excelente marketing humanitário. Só assim se percebe ter agido assim no Lar de Reguengos e não ter mexido um dedo sequer - nem o dedo mindinho - para inspeccionar outros lares em situação calamitosa semelhante.

António Costa ficou chateado, claro que ficou chateado. Até se sentiu insultado pela ousadia da Ordem dos Médicos em mostrar a realidade que ele tanto gosta de embelezar com jogos de palavras e desculpas para justificar a não responsabilização do Estado em coisa nenhuma.

Uma coisa sabemos: a culpa nunca é de António Costa. De quem é já nem importa.

Quem se lixa são os velhotes por esse país fora, porque quem merece a nossa atenção é o cão e o gato abandonados, que os velhotes não são tão fofinhos e não ficam bem nas selfies.

28
Ago20

O conto «Saga» foi inspirado em Jan, o bisavô de Sophia

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Isabel Nery na biografia que esceveu sobre Sophia e que estou a ler neste momento conta que o conto Saga foi inspirado em Jan, o bisavô de Sophia:

 

Além de uma história de família, já passada de geração em geração, a aventura de Jan com o urso e a expulsão do navio inspiraram um dos textos mais claramente autobiográficos de Sophia, o conto «Saga», publicado no livro Histórias da Terra e do Mar, em 1984.

(...)

Em entrevista de 1985, Sophia admite que o conto «Saga» nasceu de uma história de família:

O meu bisavô veio realmente de uma ilha na Dinamarca, embarcado à aventura e foi assim que acabou por chegar ao Porto. O episódio da saga com o capitão, o do número de circo com a pele de urso no cais, o abandono do navio - tudo isso aconteceu de facto.Também são verdadeiras as palavras que ele disse, mais tarde, a uma das netas: "O mar é o caminho para a minha casa".

in Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery

26
Ago20

Jan não só permaneceria em terra, como se fixaria nesse imprevisto apeadeiro

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Movimento de navios no rio Douro em 1835 @ pt.wikipedia.org

 

Sem surpresa, portanto, também Jan escolheu o mar. Talvez contra a vontade dos pais, talvez clandestino. Em 1840 embarca no navio Fanni que o fará acostar pela primeira vez o Porto, numa manhã de Verão.

Nem deveria ter pisado solo português, impedido que estava pelas regras a que as embarcações estrangeiras eram sujeitas. Mas, atraído pela curiosidade ou levado por aquela energia que é dada em demasia às mentes púberes, arriscou sair. Não seriam mais de dois ou três passos a distar entre o solo de madeira da embarcação e o chão de pedra do cais. Mas mudaram-lhe o destino.

(...)

Nada disso podia imaginar o jovem insubordinado de 14 anos que, segundo reza a lenda familiar, acabaria expulso do barco pelo capitão, zangado com as habilidades e excentricidades do garoto. Debaixo de uma pele de animal selvagem, e sem saber falar português, gesticulou o que seria a encenação de uma caça ao urso. Os transeuntes gostaram tanto que foram atirando moedas. Não se sabe se as terá conseguido guardar ou se foi mesmo sovado pelo capitão, enraivecido com o espectáculo que encontrou de regresso ao navio. Sabe-se, sim, que Jan não só permaneceria em terra, como se fixaria nesse imprevisto apeadeiro. Até morrer.

in Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery

25
Ago20

Mergulhavam em pensamentos, em sonhos, em mundos ou em nada

Um dia, eram os gatos pretos: chegavam tranqüilamente, sem estranheza, como visitas antigas.

Subiam as escadas, miravam a cozinha, moviam a cabeça com ares de quem recorda: "Por onde andará Fulana? Será esta?"

Pareciam convencer-se de que haviam acertado: instalavam-se onde entendiam, lambiam-se com a língua rósea e mole, e fina, e longa, semicerravam os olhos, mergulhavam em pensamentos, em sonhos, em mundos ou em nada.

Olhinhos de Gato - Cecília Meireles

25
Ago20

Tudo faz bem, mas só até certo ponto

A cada instante lhe examinavam as solas dos sapatos: não acontecesse andar com os pés molhados.

Mas também com o sol tinham cuidados especiais: podia morrer de insolação. . . Se começava a escurecer, traziam-na depressa para casa: porque há o sereno, que infiltra doenças mansamente, pela cabeça.

Se faz luar grande, fecha-se a janela, porque essa fria luz estraga a vida. "Tudo faz bem, mas só até certo ponto."

Olhinhos de Gato - Cecília Meireles

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Quanto mais leio menos sei
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