O clamor dos cofres
O clamor dos cofres abarrotados de vidas...
Excerto do poema Colloque Sentimental
in Pauliceia Desvairada (1922) de Mário de Andrade
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O clamor dos cofres abarrotados de vidas...
Excerto do poema Colloque Sentimental
in Pauliceia Desvairada (1922) de Mário de Andrade
Baratynsky por influência de amigos, conseguiria obter a licença do Imperador para se retirar do exército.
Casa-se com a filha do major-general Gregory G. Engelhardt - Nastasya Lvovna Engelgardt - e ficam a viver em Muranovo. Com nove filhos, a vida familiar de Baratynsky parecia feliz, mas uma profunda melancolia se foi abatendo sobre a sua mente e a sua poesia. A sua vida tornou-se insuportavelmente monótona para a sua rebeldia, o que viria a reflectir-se na sua poesia. O humor de Baratynsky evoluiu do pessimismo para a desesperança e a elegia tornou-se na sua forma preferida para expressá-la.
Em 1843 viaja para Paris onde passa o Inverno a frequentar salões literários, onde lia os seus poemas traduzidos em francês, conhecendo poetas como Alphonse de Lamartine e Alfred de Vigny.
No ano seguinte viaja para Nápoles, onde viria a falecer por doença súbita.
Farewell, farewell, you brilliant summer skies!
Farewell, farewell to nature's splendour!
The waters gleaming in their golden scales,
the woods with their enchanted murmur!
Oh happy dream of fleeting summer joys!
Excerto do poema Autumn
Yevgeny Baratynsky
in Chapter II - Around Pushkin
The Penguin Book of Russian Poetry - edited by Robert Chandler,
Boris Dralyuk and Irina Mashinski
Natal de 1919 na Quinta do Campo Alegre, no ano de nascimento de Sophia, um dos bebés da foto
@ Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery
Conspirações, atentados, tiroteios nas ruas e cenas de pugilato na Assembleia faziam parte do quotidiano dos portugueses em 1919, ano do nascimento de Sophia.
Desse ambiente de guerra civil dá conta o avô Tomás, que registava a sua revolta e discordância pela situação do país nos cadernos pessoais. Um deles tem a capa gravada com o título Agenda Memorial-Diário -1919. Aí escreveu, riscou e rabiscou com caneta preta de tinta permanente logo no início do ano, a 11 de janeiro: «A noite foi agitada. Muita tropa nas ruas. As patrulhas de vez em quando disparam.» Logo no mês seguinte,a 22 de fevereiro anota a vermelho, no canto da página, «motins graves».
(...)
Sophia nasce num país que fugia e morria. Em 1919, Portugal atinge um pico de 69 mil emigrantes e faz o luto de quase outros tantos habitantes (60 mil) levados pela pneumónica. No ano de batismo da poeta perdiam-se milhares de vitimas de doenças infectocontagiosas como o tifo, sintoma de miséria: 2282 mortes contabilizadas só nesses doze meses.
(...)
Mas não há escombros, ameaças nem guerra eminente que possam impedir certas urgências da natureza. Tal como a morte, o nascimento não se adia, nem se atrapalha com momentos históricos mais ou menos atribulados. Simplesmente acontece. E a Sophia aconteceu-lhe às 11 horas e 20 minutos do dia 6 de novembro de 1919, em casa dos pais, na Rua António Cardoso, n.o 170, no Porto.
(...)
À hora a que Sophia nasceu, o avô Tomás viajava no comboio de Lisboa para o Porto e o pai preparava-se para erguer perante a matilha dos seus cães de caça a primeira filha. Sem mais delongas, e apesar do frio agreste de um novembro no Norte do país, João Henrique Andresen entendeu urgente levar a recém-nascida ao alpendre para a apresentar ao universo. Talvez um momento premonitório da relação quase mística que a poeta viria a acalentar com a natureza, uma constante na sua obra e um traço marcante da sua personalidade.
(...)
Rendido ao amor pela mais nova Mello Breyner - «Estive muito tempo com a rica neta ao colo. Querida e que amor ela é! Que ternura me faz!»
in Sophia de Mello Breyner Andresen de Isabel Nery
- Vem connosco, Oriana- tornaram a pedir as andorinhas.
- Eu prometi tomar conta da floresta - respondeu a fada - e uma promessa é uma coisa muito importante.
Então as andorinhas fitaram-na com olhos pretos duros e brilhantes e, com um ar severo, disseram:
- Oriana, não mereces ter asas. Tu não amas o espaço e a liberdade.
Oriana baixou a cabeça e respondeu:
- Eu fiz uma promessa.
As andorinhas viraram-lhe as costas e não fizeram mais caso dela.
A Fada Oriana - Sophia de Mello Breyner Andresen
Baratynsky foi destacado para um regimento na Finlândia, onde permaneceu durane seis anos, levando uma vida calma e isolada, escrevendo poesia.
Nos seus primeiros poemas tentou escrever de um maneira diferente de Pushkin, que ele idolatrava e considerava o modelo da perfeição. E conseguiu-o, escrevendo num estilo realista e acolhedor, com um toque sentimental. Nos seus poemas sobre a Finlândia, as descrições estão entre as melhores. A natureza rigorosa da Finlândia era adorada por Baratynsky.
Ler a biografia de um autor não é essencial para compreendê-lo. Muitas vezes a biografia de nada serve para compreender a sua escrita, mas se quisermos conhecê-lo profundamente para além dos muros das suas palavras, nada melhor do que ler a sua biografia.
E preferencialmente enquanto estivermos a ler os seus livros. A experiência de leitura torna-se mais profunda e cativante. Vivemos em pleno não só a escrita do autor, mas também o ambiente e a era em que viveu.
Comecei por experimentar este método de leitura com Somerset Maugham e continuei a fazê-lo com Sophia de Mello Breyner Andresen.
Tem sido uma experiência memorável, com a leitura a tornar-se tridimensional, com todos os cinco sentidos aplicados a cada palavra que leio.
Uma experiência que tenciono repetir, porque o melhor do mundo é ler assim.
He is extinguished! but he greeted all
that lives beneath the sun;
his heart responded to each living call
touching the heart of man;
on wings of thought he soared through earth and sky,
bounded by nothing but infinity.
Excerto do poema On the Death of Goethe
Yevgeny Baratynsky
in Chapter II - Around Pushkin
The Penguin Book of Russian Poetry - edited by Robert Chandler,
Boris Dralyuk and Irina Mashinski
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