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Livrologia

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30
Dez20

2020, o ano da perplexidade humana

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Ditou a natureza que 2020 seria o ano do seu grito.

Um basta! que obrigou o mundo inteiro a parar para reflectir.

2020 foi o ano em que a humanidade adoeceu, morreu e a natureza ganhou saúde, renasceu.

Foi também o ano da perplexidade humana, um ano interessante do ponto de vista sociológico e psicológico, em que o ser humano deixou cair a máscara, apesar de ter de usar uma diariamente, revelando a sua humanidade ou a falta dela nestes tempos difíceis. As certezas que tantos tinham ruíram, desfazendo-se em pó. As certezas de quem eram, seguiram o mesmo caminho.

Fala-se muito do regresso à normalidade, mas não sei de que normalidade se fala, que conceito será esse. Talvez todos queiram regressar à mesma normalidade que consideravam normal e que, afinal, talvez não o fosse.

Se vai ficar tudo bem? 

Importa é ficarmos bem, porque a saúde continua a ser um dos bens mais preciosos.

Em 2020 ficará na minha memória uma imagem que nunca esquecerei: todas as manhãs em que conduzi para o trabalho, em estradas completamente desertas, sem avistar uma alma humana, debaixo de um silêncio ensurdecedor e apocalíptico.

Nessas manhãs, apesar de sentir que o mundo estava a acabar, nunca vi o céu tão bonito, nunca respirei um ar tão puro, nunca tinha sentido o silêncio assim.

Foram estes momentos cataclísmicos que me marcaram com a sua dualidade de grande beleza em plena destruição.

29
Dez20

Balanço livresco de 2020

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Metas de leitura com base no número de livros lidos não é e nunca será o meu objectivo. Na leitura não gosto de quantificar, mas de qualificar, porque leio, acima de tudo, pessoas e não meros objectos.

E é delas que é feito o meu balanço livresco de 2020, pessoas que escreveram histórias e poemas, pessoas com quem passei os meus dias. 

Com elas vivi, passeei, acordei, adormeci. Com elas os dias de 2020 tornaram-se mais bonitos, apesar de tudo o que ia acontecendo no mundo. 

Das arestas exactas dos versos da poesia russa às florestas ondulantes de Sophia, do sol aconchegante de Cecília à paixão exacerbada de Mário de Andrade, dos muitos amores de Vinicius à sentimentalidade de Manuel Bandeira.

Em 2020 decidi trazer mais calor e ritmo brasileiros às minhas leituras, porque o que li em 2020 não foi uma coincidência, mas um meio de sobrevivência aos tempos que vivemos. A literatura brasileira trouxe o sol, o espaço e a alegria que faltaram aos nossos dias. 

Vi-me obrigada a adiar o ciclo de leitura de Jorge de Sena para 2021. Devido aos constrangimentos provocados pela pandemia foi impossível ter os seus livros na minha estante. A boa notícia é que está tudo preparado para que a leitura de Sena aconteça em 2021. 

Com esse adiamento, prolonguei um pouco mais o ciclo de leitura de Sophia, já finalizado e de quem já tenho muitas saudades. A ela regressarei no ciclo de leitura de Sena, quando escrever sobre a forte amizade que os uniu.

E neste adeus a 2020 aqui ficam os nomes que me acompanharam ao longo destes doze meses que nunca me pareceram tão longos:

 

Os portugueses:

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Os brasileiros:

Cecília Meireles

Manuel Bandeira

Mário de Andrade

Vinicius de Moraes

 

Os russos:

(1743-1816) Gavrila Derzhavin

(1769-1844) Ivan Krylov

(1783-1852) Vasily Zhukovsky

(1787-1855) Konstantin Batyushkov

(1792-1878) Prince Pyotr Vyazemsky

(1797-1846) Wilhelm Küchelbecker

(1798-1831) Anton Delvig

(1800-1844) Yevgeny Baratynsky

(1803-1846) Nikolay Yazykov

(1799-1837) Alexander Pushkin

23
Dez20

Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

in Cancioneiro de Fernando Pessoa

Pág. 1/7

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
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