Sempre me insurgi contra essa afirmativa muito diária de que a música é a mais atrasada das artes.
(...)
E finalmente só então é que se observou que a música já realizara, dois séculos atrás, esse ideal de arte pura - máquina de comover por meio da beleza artística.
in A Escrava que não é Isaura (1925) de Mário de Andrade
No ano em que o Livrologia comemora 7 anos de existência e, à guisa de comemoração, decidi partilhar um pouco mais sobre os seus bastidores.
O que acontece por detrás do vosso ecrã quando o lêem, as aventuras e desventuras que cada post vive antes de ser publicado, a construção dos ciclos de leitura, a sua desconstrução também, as origens do blog que já existia em papel antes de passar para o digital e todos os porquês da sua existência e da sua persistência num panorama de leitura nacional onde os clássicos são tão pouco amados.
No entanto, quero deixar já aqui o propósito maior do Livrologia.
O Livrologia é o reflexo da minha luta pessoal em prol deste acto tão bonito e tão humano que é o da leitura. Aqui defendo o livro como um dos objectos mais preciosos da cultura de um país e do mundo, defendo quem o escreve, defendo quem o publica, defendo quem o guarda e o estima, defendo quem o partilha, defendo quem o lê.
Qual terá sido o momento exacto, aquele momento mágico, quase místico, que terá levado Sena a escrever o primeiro poema?
Segundo Jorge Fazenda Lourenço no seu O Essencial sobre Jorge de Sena, esse momento ocorreu na adolescência:
É proverbial o episódio da aparição da poesia ao adolescente Jorge de Sena. Tudo aconteceu em 1936, após a audição radiofónica de uma peça de Debussy mais tarde evocada em Arte de Música. Decerto precedida de muitos outros contactos musicais esta experiência revestiu-se, contudo, de um carácter originário e singular.
Foi assim que surgiu o primeiro poema de Jorge de Sena Desengano que pode ser encontrado no livro Post-Scriptum II.
Foi todavia o momento decisivo no destino de um dos maiores poetas de língua portuguesa, porque representou, como em todo o tipo de primícias, a experiência vivida do sensível no máximo da sua glória.
O menino Jesus só cresce e se faz homem quando os outros meninos crescem e julgam que se fazem homens. O que, e lá isso é verdade, não acontece a toda a gente, como os meninos terão muito tempo para ver. Mas isso é já outra história, que os meninos aprenderão, sem que ninguém lha conte.
Excerto do conto Razão de o Pai Natal ter Barbas Brancas
in Antigas e Novas Andanças do Demónio (1960 e 1966)
A Penguin Classics vai lançar um podcast On The Road with Penguin Classics para inspirar novos leitores a descobrirem velhos títulos.
O autor e editor Henry Eliot será o anfitrião que receberá a partir de 28 de Janeiro convidados de várias áreas, que irão comentar e tentar convencer os leitores a lerem um clássico.
E porquê agora? Porque neste mês comemora-se os 75 anos do nascimento da Penguin Classics que lançou o seu primeiro clássico em 1946, uma tradução d' A Odisseia. Desde então a marca Penguin Classics tem-se tornado na maior biblioteca viva de clássicos publicados em inglês.
É a eles que recorro quando não encontro clássicos em português e é deles o livro que estou a ler de poesia russa: The Penguin Book of Russian Poetry.