Sena é um autor complexo e vasto. Um mundo inteiro cabe nele.
Não só pela vastidão dos temas sobre os quais escreveu ― Amor, Liberdade, Justiça, Humanidade entre outros ― mas também pelas diferentes formas como os expressou ― poesia, romance, contos, teatro, crítica, tradução.
Sena foi mais do que um autor, foi o intelectual que Portugal teve o privilégio de ter. Porque Sena escrevia não apenas pelo prazer de escrever, mas para apreender o mundo, estudá-lo, compreendê-lo e quiçá utopicamente solucioná-lo.
Talvez tenha sido essa vontade utópica que o fez elevar a crítica a um outro nível a que Portugal não estava habituado. Aliás, ainda não está.
A sua crítica nasce do seu poetar, porque enquanto criava poesia, reflectia dentro de si e contemplava tudo à sua volta. Por isso, poesia e crítica em Sena são uma só, porque é do poeta que todas as perspectivas e todas as possibilidades brotam.
Não contei nada, eu sei, mas durante todo o ano de 2020 andei à procura dos livros de Sena e vi-me envolvida numa aventura inesperada.
Quando a biblioteca reabriu, descobri, para mal dos meus pecados, que não tinham em catálogo quase nenhum livro de Sena. Comecei depois a procurar por livros disponíveis para venda e descobri que muitos deles estavam esgotados e que outros tantos não tinham previsão de reposição.
Salvou-me a Almedina onde consegui encontrar muitos dos livros dele, mas e a poesia?
Indisponível em todo o lado. Apeteceu-me gritar!
Ler Sena e não ler a sua poesia seria como aprender o alfabeto e não conseguir criar uma única palavra.
Voltei novamente à biblioteca. Procurei incansavelmente por Sena. Encontrei miraculosamente a sua poesia. Aborreci a bibliotecária. Quis tocar nos livros e ela não me deixou. E trouxe os três volumes de poesia debaixo do braço.
Foi uma luta renhida, oh! se foi, mas Sena já está ali na estante, à minha espera.