- To marry my granddaughter to a bought negro slave?
- He is not a commoner. - Gavril Afanasyevitch said. - He is the son of the Negro Sultan. Infidels took him prisoner and sold him in Constantinople, and our ambassador rescued him and gave him to the Tsar.
À medida que lemos vamos atrás dos gatos e finalmente chegámos à rua onde se encontra o bazar do Sabetudo. É absolutamente extraordinário!
Lá dentro cabe o mundo inteiro e não queremos sair da página que o alberga.
Queremos olhar para tudo e não sabemos para onde olhar primeiro:
7200 chapéus de abas flexíveis para que o vento os não levasse; 160 rodas de leme de barcos enjoados de tantas voltas que deram ao mundo; 245 lanternas de embarcações que desafiaram os mais espessos nevoeiros; 12 telégrafos de comandos batidos pelas mãos de iracundos capitães; 256 bússolas que nunca perderam o norte;
E isto é apenas uma pequena parte do que encontramos no bazar. Uma pequena parte do mundo aqui escondido e que podemos visitar sem zarpar do porto desta página.
Sabetudo vivia num lugar bastante difícil de descrever, porque à primeira vista podia ser uma desordenada loja de artigos estranhos, um museu de extravagâncias, um depósito de máquinas sem préstimo, a biblioteca mais caótica do mundo ou o laboratório de algum sábio inventor de objectos impossíveis de enumerar. Mas não era nada disso ou, antes, era muito mais do que tudo isso.
in História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar (1996) de Luís Sepúlveda
Um gato e uma gaivota podem ter mais problemas do que imaginaríamos, principalmente se o primeiro for gordo e a segunda estiver perdida do seu bando.
A gordura nunca impedirá um gato de ser gato, mas uma gaivota presa numa maré negra em pleno oceano, não poderá ser gaivota.
Esta maré não é como as outras. Vem do abandono, vem da indiferença, vem da humanidade que negligencia continuamente a natureza, não só a matando, mas também roubando-lhe a liberdade.
Não precisamos de ler muitas páginas deste livro para sentir o seu pulsar ambiental.
Não nos podemos calar e como dizia Luís Sepúlveda todos os silêncios são cúmplices e têm uma quota parte de responsabilidade.
Kengah, uma gaivota de penas cor de prata, gostava especialmente de observar as bandeiras dos barcos, pois sabia que cada uma delas representava uma forma de falar, de dar nome às mesmas coisas com palavras diferentes.
in História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar (1996) de Luís Sepúlveda
Começámos a ler História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar a dois.
Pausamos constantemente a leitura para falarmos sobre ela. Aliás, tem sido uma leitura muito conversada e já tinha saudades de ler assim.
Há muito tempo que não lia Sepúlveda e não consegui conter o choque quando soube da sua morte à mercê da pandemia, no ano passado. Para mim ele era já imortal e mantive-me em negação até hoje.
Quando li a dedicatória que o autor escreveu neste livro, a sua mortalidade atingiu-me em cheio:
Aos meus filhos Sebastián, Max e León, os melhores tripulantes dos meus sonhos.
Sei que ele sempre irá pertencer ao meu imaginário e eu ao dele. É assim a imortalidade na literatura.