Para celebrar o Dia Mundial do Teatro, que já ocorreu a 27 de Março, estou a ler Filoctetes de Sófocles. Não encontrei melhor homenagem ao teatro do que ler uma tragédia grega.
Os tempos invulgares que atravessamos está cheio de inesperados e foi num deles que conheci Filoctetes, a última peça que Sófocles encenou:
A tragédia de um homem rejeitado e atirado para uma solidão injusta e roaz de dez anos e a sua luta contra toda a espécie de pressões e ameaças, viessem de onde viessem, para continuar livre e senhor do seu querer e dos seus actos.
Sim, é verdade que vim para te ajudar, e receio ser considerado um traidor: contudo prefiro, senhor, falhar, agindo honestamente, a vencer, procedendo como um vilão.
Tal como todas as outras artes, a poesia tem a sua técnica. Claro que qualquer um pode escrever algumas linhas e chamá-lo de poema, mas um poema é muito mais que algumas linhas.
Aliás, quem quiser iniciar-se na escrita deve começar por escrever poemas.
E porquê?
Num poema tem de caber muito com poucas palavras. Não há melhor exercício para a prática da escrita do que concentrar em poucas linhas histórias, paisagens, emoções. Um poema não permite excessos, palavras aprisionadas, nós por desatar. Metaforicamente permite, mas isso serão outros instantes da minha estante.
Para escrever poesia há que escutar e não inventar.
E nas intermitências do cantar e do conversar escreve-se um poema.
Agora põe-te ao meu dispôr pelo curto espaço de um dia, para agires sem escrúpulos; depois durante o resto da vida, podem considerar-te o mais honesto de todos os mortais.
Longe de mim tentar definir uma arte como a poesia. Aliás, as definições são o que são: inevitáveis.
E se ainda assim insistirmos em defini-la, podemos sempre questionar directamente o poeta. Teremos tantas respostas, quantos poetas que a escrevem.
E se questionarmos os leitores, iremos obter as sensações que a poesia lhes provoca e raramente uma definição.
E se viajarmos no tempo, percebemos que os gregos serviram-se também da forma poética para registar eventos históricos.
O que é, afinal, a poesia?
A resposta mais exacta e precisa surgiu quando menos a esperava. Não me recordo da sua autoria, mas é a definição perfeita para quem, como eu, não gosta de definições: