Indiferença perante a pandemia e as regras ridículas que nos são impostas. Já ninguém respeita a incoerência governativa que este país tem sofrido à mercê dos delírios de políticos que não sabem gerir um país, quanto mais uma pandemia.
Mas receio que esta indiferença se aprofunde e nos leve a um lugar de onde não conseguiremos voltar.
Creio que os portugueses estejam já numa fase em que estão preparados para voluntariamente submeterem a sua liberdade individual em prol da paz, da estabilidade, da segurança, mesmo que fictícias. Não querem ser livres, querem estar seguros.
Aliás, creio que há um equívoco generalizado do conceito de liberdade em Portugal que se vai acentuando cada vez mais, em que para se ser livre basta ter dinheiro. E isto preocupa-me.
É tão raro encontrar alguém que escreva tão apaixonadamente sobre um autor e, mais raro ainda, que me convença a fazer um desvio das minhas leituras para ir ao encontro de um novo autor que não conheço.
Mas foi o que aconteceu durante estas férias ao ler um artigo de Gonçalo Frota no Ípsilon sobre Édouard Louis, um jovem romancista francês que tem sido uma revelação literária, especialmente porque todos os seus textos são autobiográficos. Aliás, tão chocantes que mais parecem ficção.
E o teatro está simplesmente a adorá-lo, com a encenação dos seus textos.
Não é estranho porque a história da minha vida é muito teatral.
Tenho borboletas na barriga como há muito não tinha.
Vou incluí-lo nas minhas próximas compras livrescas e veremos se ficarei absolutamente rendida.
Espero que sim.
**Frase de Jan Le Bris de Kerne sobre Édouard Louis no Ípsilon
Nesta fase da leitura de Sena já o conhecemos suficientemente bem para adivinhar qual a sua postura perante a ditadura.
Um inconformista e um humanista Jorge de Sena chegou a envolver-se numa tentativa falhada de golpe de Estado militar contra o regime salazarista em 1959 - o Golpe da Sé - partindo voluntariamente para o exílio nesse mesmo ano, nunca mais regressando a Portugal de forma definitiva.
Jorge de Sena partiu em 1959 para o exílio, porque estava "coarctado" na sua liberdade. "Saímos para ele escrever sem pensar nos limites que lhe eram impostos", explica a sua mulher.
Jorge de Sena exilou-se então voluntariamente no Brasil, onde chegou a 7 de Agosto. "Passou a ter condições de vida e de trabalho que potenciaram a sua criatividade", diz Jorge Fazenda Lourenço, especialista na obra deste autor.
Nos anos seguintes, "ir a Portugal era um jogo", porque entre 1959 e 1968 "tinha ordem de prisão", conta Mécia de Sena. Saíram do Brasil por causa do golpe militar em 1964. "Tínhamos alergia às ditaduras. Saímos do Brasil também por causa da ditadura", explica Mécia.