Quem cantarei?
Roubam-me Deus,
outros o Diabo
- quem cantarei?
Excerto do poema Epígrafe para a Arte de Furtar
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
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Roubam-me Deus,
outros o Diabo
- quem cantarei?
Excerto do poema Epígrafe para a Arte de Furtar
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
Um conto surrealista com uma história insólita e incoerente.
Os olhos dela despiam-no, numa ignorância total de como se despe um homem que dorme.
Excerto do conto O Comboio das Onze
in Antigas e Novas Andanças do Demónio (1960 e 1966)
de Jorge de Sena
Na cabina telefónica onde o guarda ficara morto, o telefone tiniu. O vento sibilava matutinamente já por entre a tepidez do ar, a qual rodeava a frialdade cadaverosa do homem de bigode e mesmo algum cotão que espreitava dos refegos dos bolsos meio revirados. Um gato correu rapidamente ao longo dos carris que começaram a vibrar cada vez mais. Um apito se ouviu ao longe. Pancrácio abriu a porta, entrou e disse: - Ergue-te e caminha!
Excerto do conto O Comboio das Onze
in Antigas e Novas Andanças do Demónio (1960 e 1966)
de Jorge de Sena
Aguardava a passagem do comboio, sabendo que a locomotiva ultrapassava a compreensão da expectativa (...)
Excerto do conto O Comboio das Onze
in Antigas e Novas Andanças do Demónio (1960 e 1966)
de Jorge de Sena
Acabei de ler Poesia I e tenho mais dois volumes à minha espera, no entanto não consigo evitar aquela sensação de abandono, de saudosismo já pelo término compassado da leitura de Sena.
Não vou ler os ensaios literários, aliás alguns deles estudados para os exames da faculdade, nem os seus ensaios políticos. Talvez mais tarde.
Neste ciclo de leitura quero apenas focar-me na poesia e na prosa, com um pequeno desvio pela correspondência que trocou com algumas figuras bem conhecidas e pelas entrevistas que deu a vários meios de comunicação social.
Entretanto, continuo a intercalar com a leitura da sua poesia os contos de Antigas e Novas Andanças do Demónio, que têm sido uma revelação para mim, como a leitora que Sena está a reconquistar.
Considerando todas as contingências que a minha rotina tem sofrido, creio que não está nada mal o andamento deste meu ciclo de leitura.
Post-Scriptum contém poemas inéditos, cheios de saudosismo, de abandono a uma condição que não se escolhe.
Pois nenhum mundo nos fará melhores,
nem nenhum Deus nos salvará do mal.
Nunca nenhum salvou. Apenas nos fartámos
de horror que não sabíamos. E queremos
novos mundos e deuses sem enganos,
em que, depois de já sabermos que
somos falsos e vis, cruéis e vácuos,
possamos dar-nos ao supremo engano
de calmas e fraternas sobrevidas.
É desespero tudo, mas repete-se
tão sem se repetir, tão sempre de outros,
tão noutros e com outros que esperamos
o mais que ainda virá. Às vezes, nada.
O Sim. O Não. Um simples hesitar.
Às vezes muito pouco. O pouco. O muito.
O desespero é fácil tal como esperar.
Excerto do poema Glosa à Chegada de Godot
Post-Scriptum (1960)
in Poesia I de Jorge de Sena
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