Há muito desisti de não saber
Há muito desisti de não saber
que não sabia.
Outros que vivam sua vida: eu vejo
como vivem a minha.
Excerto do poema Tríptico do Nada
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
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Há muito desisti de não saber
que não sabia.
Outros que vivam sua vida: eu vejo
como vivem a minha.
Excerto do poema Tríptico do Nada
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
Uma das qualidades que eu mais apreciava no Jorge era a sua capacidade de admirar: um verso, uma paisagem, um torneado, uma luz, um rosto ou um corpo, uma passagem musical, um doce, uma palavra em qualquer língua... tudo podia ser «belo» ou «tinha» ou «era» de «uma beleza» «extraordinária» ou «rara» ou mesmo só «alguma». Impossível exemplificar... para a admiração justificada tinha uma disponibilidade total.
~ Mécia de Sena ~
in Mécia de Sena (1920-2020). A outra metade do génio por Teresa Carvalho
E tudo podem quanto, ousados, possam:
todas as leis são lei, e lei não há nenhuma.
Excerto do poema Tríptico do Nada
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
Mesmo o que sabes, sabes que não sabes,
do não-saber que é ter sabido outrora.
Excerto do poema Entre-Distância
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
Dactilografou até à exaustão – papelada solta, cartas inúmeras – separou, classificou, organizou, acautelou acidentes e extravios, anotou, prefaciou, viu e reviu, sacrificou pestanas, persistiu, pressionou, concretizou, divulgou uma obra maior.
Mécia de Sena, essa operária das letras, exausta de horas extra e de décadas de trabalho criterioso, era uma máquina de produzir estímulo e de fazer perdurar.
Sem o seu esplêndido contributo, a sua longa e apaixonada dedicação, o seu esforço e a sua constância, a obra de Sena estaria hoje rodeada de espesso silêncio.
A energia desta mulher, que entretanto a idade afastara já das funções de guardiã literária de Sena, parecia não se esgotar. Chegou a comentar-se, aliás, que era ela que escrevia boa parte das coisas de Sena. Com desassombro e aquele fiozinho de ironia que cultivava, Mécia «agradecia muito que tão alto conceito fizessem de mim. Eu tinha um filho cada ano, ensinava horas e horas em colégios, eu dactilografava tudo para o Jorge e não perdia concerto nem conferência que ele desse... Um de nós tinha que ser génio, se lhe aprazia que fosse eu..., problema deles! Ficava muito grata».
in Mécia de Sena (1920-2020). A outra metade do génio por Teresa Carvalho
Um assobio distante e ciciado
como se diz que os anjos ouvem os planetas.
Excerto do poema Sexta-Feira
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
Quanto eu disser não ouças,
quanto eu fizer não vejas;
e, se eu estender as mãos,
não mes estendas as tuas.
Aceita que eu exista como os sonhos
que ninguém sonha,
as imagens malditas que no espelho
são noite irreflectida.
Excerto do poema «Quanto eu disser...»
Fidelidade (1958)
in Poesia II de Jorge de Sena
Uma pequena pausa nesta página para vos declarar o quanto estou a adorar este conto Duas Medalhas Imperiais com Atlântico.
Este conto não é um conto qualquer e contém em si três breves narrativas: I Porto Grande (S. Vicente de Cabo Verde; II A Ilha que perdeu o Equador; III Atlântico.
A minha adoração prende-se com as viagens que este conto me permite fazer e que a vida real tanto tem adiado. Leva-me ao mar que costuma reflectir a cor de todo o céu e desprezar as nuvens, ao contra-luz do sol já posto, da chaminé de um barco afundado ao sino que adiantou a escuridão, à crioula com a criança ao colo, da fila de mulheres com cestos à cabeça aos mastros que sobrevivem à treva.
Da cidade do Mindelo em Cabo Verde a São Tomé e pelo meio um oceano imenso que dizem chamar-se Atlântico.
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