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Livrologia

Livrologia

06
Set21

O momento em que Sena atravessa a rua

King's Road, 1960, Londres

King's Road, 1960, Londres

Há pequenas delícias que Sena deixa escapar nas suas notas. Aliás, se não fossem as suas notas, prefácios e posfácios nunca conseguiria entrar na sua intimidade.

Para Sena tudo era motivo de inspiração e um deles foi o momento em que atravessa a rua em King's Road e que viria a eternizar em poema. 

Este poema que foi sentido pelo autor ao atravessar, abertas as luzes verdes, a King's Road, que é o eixo central de Chelsea, em Londres, bairro aonde vivi durante uma estadia britânica em 1957 (bairro que ainda não era o «chique» reles e grã-fino que se tornou), comemora, com a dedicatória, o encontro, a que assisti, dos dois monstros sagrados, o inglês e o brasileiro, creio que no dia em que o poema foi escrito.

Esse encontro narrei-o algures, num artigo. Edith Sitwell já eu conhecera antes, em anterior visita à Inglaterra. Manuel Bandeira, com quem tinha correspondência e troca de livros, havia anos, e com quem vim a conviver bastante no Rio de Janeiro, nos anos 1959-65 (desde que cheguei e até que saí do Brasil), conheci-o nessa minha estada que coincidiu com a presença de Bandeira na Europa, e em Londres aonde chegámos com poucos ou creio que um dia de diferença.

Porque entre vários passeios o levei a ver a Abadia de Westminster, e por acaso fomos interrompidos no caminho pela pomposa passagem da Rainha que ia presidir à abertura solene do Parlamento ou coisa parecida, Manuel celebrou a visita à catedral, a passagem de Isabel II por diante de nós, e a nossa coincidência londrina numa bela crónica, Eu vi a Rainha.

in Notas a alguns poemas

Poesia II de Jorge de Sena

04
Set21

Versos que deixam de pertencer a quem os escreveu e são de toda a gente

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Todos os poetas escrevem um poema marcante ou até vários.

Versos que andam na boca das gentes, que caminham pelas ruas do mundo, como pregões gritados à janela.

Como poderemos alguma vez esquecer aqueles versos de Sophia:

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar

Ou os de Fernando Pessoa:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E particularmente estes versos de Jorge de Sena

Não hei-de morrer sem saber

qual a cor da liberdade.

Poderia enumerar tantos mais poemas que passam pelos tempos e não caem no esquecimento. 

Versos que deixam de pertencer a quem os escreveu e são de toda a gente.

03
Set21

«Quem a tem...»

Não hei-de morrer sem saber

qual a cor da liberdade.

 

Eu não posso senão ser

desta terra em que nasci.

Embora ao mundo pertença

e sempre a verdade vença,

qual será ser livre aqui,

não hei-de morrer sem saber.

 

Trocaram tudo em maldade,

é quase um crime viver.

Mas, embora escondam tudo

e me queiram cego e mudo,

não hei-de morrer sem saber

qual a cor da liberdade.

Poema «Quem a tem...»

Fidelidade (1958)

in Poesia II de Jorge de Sena

02
Set21

Notícias, histórias fictícias

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Neste quase final de Verão quero escrever futilmente sobre o nada e o vazio em que caí ao adormecer de frente para o mar, dos cabelos despenteados que recusaram o pente e a escova, da pele salgada e rebelde de sol e areia, dos meus olhos que se inundaram de marés.

Queria lá ficar onde estive, naquele estado de irresponsabilidade fingida, de despreocupação e esquecimento pelo mundo.

Notícias houvesse e ignorava-as uma por uma, histórias fictícias de um livro que recusava ler. Deixei-as ficar naquele limbo onde nada acontece, por isso neste final do mês não comentarei absolutamente nada que não seja o mar e o sol.

01
Set21

Isto

Não queiras, não perguntes, não esperes.

Isto que passa como vida e tu

medes em dias, horas e minutos,

ou como tempo passa e vais medindo

em rugas e lembranças e em sombrias

e plácidas visões de coisa alguma,

às vezes sorridentes, mas sombrias;

sim: isto, a que dás nomes, que separas

do resto em que surgiu, de que surgiu;

isto, que já não queres, não interrogas,

de que já nada esperas, mas que queres,

por que perguntas sempre, e por que esperas;

isto, que não és tu, nem vai contigo,

nem fica quando vais; em que não pensas,

porque ao medir apenas medes e 

nada mais fazes que medir - só isto,

apenas isto, isto unicamente:

não queiras, não perguntes, não esperes,

que o pouco ou muito é tudo o que te resta.

 

Poema Isto

Fidelidade (1958)

in Poesia II de Jorge de Sena

Pág. 4/4

Quanto mais leio menos sei
O autor português de 2021/2022 é Jorge de Sena
Preparem-se para dar a volta ao vosso mundo
A autora portuguesa em destaque de 2019/2020 foi Sophia de Mello Breyner Andresen
Visitem o seu mundo encantado
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Tudo o que escrevi para Os Desafios da Abelha está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
Cinema e literatura num só.
Venham também!
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Notícias literárias ou assim-assim em Operação Bookini
Espreitem as bookinices
A autora deste blog não adopta o novo Acordo Ortográfico.

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