Calendário literário do advento
O Calendário Literário do Advento vai voltar ao Livrologia.
De 1 a 24 de Dezembro uma citação de um livro ou de um/a autor/a por dia, para contar os dias até ao Natal. Ho Ho Ho.
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O Calendário Literário do Advento vai voltar ao Livrologia.
De 1 a 24 de Dezembro uma citação de um livro ou de um/a autor/a por dia, para contar os dias até ao Natal. Ho Ho Ho.
Filhos e versos, como os dás ao mundo?
Como na praia te conversam sombras de corais?
Como de angústia anoitecer profundo?
Como quem pode matar-te?
Ou como quem a ti não volta mais?
Poema A Sophia de Mello Breyner Andresen
enviando-lhe um exemplar de «Pedra Filosofal»
Peregrinatio ad Loca Infecta (1969)
in Poesia III de Jorge de Sena
[A música] que não serve para coisa nenhuma
que não seja a criação de si mesma.
À semelhança de Metamorfoses cuja poesia foi inspirada em obras de arte, em Arte de Música a poesia foi inspirada em peças musicais.
Sena afirmou que estes poemas representam repetidas vivências de uma obra ou de um compositor, que acabaram por cristalizar-se verbalmente - e, se muitas vezes de uma audição surgiram os primeiros versos, não menos a cristalização não reflecte impressões de uma peça musical pela primeira veza ouvida.
No volume Poesia II foram os poemas de Metamorfoses e Arte de Música que mais apreciei pelo seu experimentalismo, pela ousadia em quebrar a norma do que se escreve em verso.
Sempre li sofregamente todos os livros que queria ler.
Todas as leituras que fiz no passado foram sempre muito diversificadas, leves, porque sempre quis ler pelo menos um livro de cada autor do mundo inteiro. Fui percebendo que não me bastava.
Decidi então mudar o foco das minhas leituras e tornar-me mais precisa e exacta e decidi ler mais detalhadamente sobre um autor de cada vez, conhecê-lo de alma e coração.
E assim nasceram os meus ciclos de leitura.
Por detrás de cada um deles há sempre um motivo que me leva a escolher um deteminado autor e os motivos podem ser vários. Para os descobrir basta ir acompanhando os autores que escolho ler.
Desde 2019 que faço ciclos de leitura bianuais de autores portugueses. Autores que sempre quis ler de forma mais aprofundada, mas que o tempo ou as circunstâncias nunca permitiram.
O primeiro foi o de Sophia de Mello Breyner Andresen e pretendo continuar a desbravar mais literatura portuguesa.
De todos os ciclos que planeio o dos autores portugueses é o que mais acarinho. Temos excelentes autores que estão a cair no esquecimento e não quero que sejam esquecidos.
Quem tinha assim a morte na sua voz
e na vida. Quem como ela perdeu
toda a alegria e toda a esperança
é que pode cantar com esta ciência
do desespero de ser-se um ser humano
entre os humanos que o são tão pouco.
Excerto do poema A Piaf
Arte de Música (1968)
in Poesia II de Jorge de Sena
As notas vêm sós por harmonias
como de escalas que se cruzam
em sequências descontínuas de figuras
singelamente acorde surpreendido
de se encontrar num instante pensativo.
São como vagas vindas no perlado
tão diminutas, solitárias mas ligadas
de pura sucessão ocasional
que se rebusca em cálculos descaso
contrário ao hábito de estarem escritas,
ou juntas ou seguidas. Mas é como
se desde sempre este hesitante fluido
houvera de estar pronto a ser pensado
e a soar tranquilo em espaço diminuto
não por ser breve mas por ser silêncio
de uma memória em que a surpresa ecoa
lembranças perpassantes de quanto não foi,
não existiu, não foi vivido e entanto
pungente fere as águas espelhadas
onde de imagens passam vultos claros
em túnicas voando transparentes
e muito curtas sobre membros duros
que dançam devagar a dança juvenil
num salpicar de pés do tempo antigo.
Poema Erik Satie para Piano
Arte de Música (1968)
in Poesia II de Jorge de Sena
As formas de expressão podem sobrepor-se e até fundir-se em algumas áreas de acção, mas não podem substituir-se, em si mesmas, umas às outras.
O que, mais que para outro meio de expressão estética, é verdade para a música que sempre leva consigo e sempre impõe, por sua mesma natureza, os seus próprios limites. Daí que, mais para ela que para outro meio, só haja duas maneiras de falar nela: tecnicamente, ou poeticamente.
in Posfácio de 1969 -Poesia II de Jorge de Sena
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