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Livrologia

Livrologia

06
Nov21

O requinte máximo da sandice humana

Este Strauss, que não era Johann nem parente,

sabia que a música pode ser

o requinte máximo da sandice humana, um Danúbio Azul

que quanto mais ingénuo na ciência e mais cretino

na maravilha dos timbres e dos ritmos mais

nos fala ao coração ( o que não temos,

mas que usamos, nas horas vagas

de o não usarmos e termos).

Excerto do poema «Assim falou Zaratustra», de Richard Strauss

Arte de Música (1968)

in Poesia II de Jorge de Sena

05
Nov21

Há um Paraíso que não deseje ser verdade?

Ante este ímpeto de sons e de silêncio,

ante tais gritos de furiosa paz,

ante um furor tamanho de existir-se eterno,

há Portas no infinito que resistam?

Há Infinito que resista a não ter portas

para serem forçadas? Há um Paraíso

que não deseje ser verdade? E que Paraíso

pode sonhar-se a si mesmo mais real do que este?

Excerto do poema Mahler: Sinfonia da Ressurreição

Arte de Música (1968)

in Poesia II de Jorge de Sena

04
Nov21

O som organizado, mas não contaminado

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Quando a música, no lied, na ópera, em obras corais ou coral-sinfónicas, explora um texto e o sublinha, é um equívoco pensar-se que ela faz o mesmo que a pintura ou a poesia.

Ela é mais e menos que tudo isso: o som organizado, mas não contaminado de sentidos explícitos, que falta a tudo isto e ao mundo.

in Posfácio de 1969 -Poesia II de Jorge de Sena

03
Nov21

E que palavra traz consigo o som

E que palavra traz consigo o som

do que ela mesma evoca em nós: imagem

de uma ideia, cor de uma lembrança,

perfume de um desejo, forma de um conceito?

Excerto do poema Oitavas, Ouvindo a Primeira Sinfonia de Brahms

Arte de Música (1968)

in Poesia II de Jorge de Sena

02
Nov21

Com tudo o que perdia mas na voz ganhava

Mas raro assim aconteceu que a palavra fosse dita em música

como a pensada música que nela havia para lá dos sons da linguagem,

na amargura do sentido que do riso ganha uma doçura triste

que é delicada reticência em que as palavras soam

como a própria vida quando se desfaz em perdido sonho.

Não mais refinadamente se gritaram as maiores das mágoas,

sem nenhum grito, sem olhos pelo espaço, e o pranto

feito o som de um piano que acompanha a voz

impetuosa ou pensativa, mas que não chora

e apenas disserta musicalmente sobre as dores do poeta.

São pequeninos dramas líricos. Mas pouco drama em música

jamais teve esta concentrada solidão, tão severa e nua,

sem cenário e sem orquestra, e sem personagens sequer:

a vida inteira numa voz e num piano, que

são a poesia funda que não disse o homem

que brincou perseguido, exilado e traído,

com tudo o que perdia mas na voz ganhava.

Excerto do poema Ouvindo Poemas de Heine como «Lieder», de Schumann

Arte de Música (1968)

in Poesia II de Jorge de Sena

01
Nov21

Vrônski vive nos antípodas da vida de Anna

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Na página 125 de 793.

Vrônski pertence a um círculo social que preza acima de tudo a elegância, a beleza exterior,  as paixões fugazes, o divertimento na sua forma mais pura. Cada mulher que encontra é uma oportunidade de entretenimento. Confunde-as com o seu charme e os seus comentários cheios de malícia, vivendo o momento, sacudindo as consequências com uma risada.

Aliás, Vrônski vive nos antípodas da vida de Anna. 

No fundo, Anna representa as pessoas que mais abomina, visto que para ele as relações humanas devem ser motivo de prazer, enquanto que para ela vivem de laços e afectos.

Das conversas, às amizades, tudo exala futilidade e desconexão nas relações humanas de Vrônski, talvez por isso comece a ser assaltado por esta obsessão de roubar Anna para o seu mundo.

Pág. 2/2

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