Quando a música, no lied, na ópera, em obras corais ou coral-sinfónicas, explora um texto e o sublinha, é um equívoco pensar-se que ela faz o mesmo que a pintura ou a poesia.
Ela é mais e menos que tudo isso: o som organizado, mas não contaminado de sentidos explícitos, que falta a tudo isto e ao mundo.
Vrônski pertence a um círculo social que preza acima de tudo a elegância, a beleza exterior, as paixões fugazes, o divertimento na sua forma mais pura. Cada mulher que encontra é uma oportunidade de entretenimento. Confunde-as com o seu charme e os seus comentários cheios de malícia, vivendo o momento, sacudindo as consequências com uma risada.
Aliás, Vrônski vive nos antípodas da vida de Anna.
No fundo, Anna representa as pessoas que mais abomina, visto que para ele as relações humanas devem ser motivo de prazer, enquanto que para ela vivem de laços e afectos.
Das conversas, às amizades, tudo exala futilidade e desconexão nas relações humanas de Vrônski, talvez por isso comece a ser assaltado por esta obsessão de roubar Anna para o seu mundo.