Oito poemas escritos "escritos, como se vê das datas, entre 27 de Setembro e 24 de Outubro de 1972, e referente a praias desertas ou semi-desertas dos arredores de Santa Bárbara, Califórnia (...)".
As praias que deixou para trás reencontram-se nas praias que encontrou no seu exílio.
A única diferença entre Hitler e Stalin foi o tamanho dos seus bigodes, de resto foram iguais. Ambos foram seres especiais, cuja autoridade não podia, nem devia ser questionada.
Caem os bigodes, mas persistem os seres especiais. Alguns deles fingem que foram eleitos democraticamente, outros nem se dão ao trabalho. Têm em comum a sua própria insignificância, a força motriz que os levou ao poder absoluto, poder esse que é a sua missão altruísta e desinteressada de proteger o povo de tudo e de todos, excepto deles própios.
Precisam desesperadamente de uma batalha, uma batalha qualquer, para manter a existência mesmo que ficcional, de inimigos que precisa de combater ferozmente para justificar o seu domínio protector.
A História tem demonstrado que há algo de profundamente errado com a humanidade, que continua a permitir a ascensão de sociopatas ao poder. Mas a História é apenas um livro empoeirado e entediante que apenas serve para adormecer as insónias do mundo.
Sena que muito combateu e criticou o Estado Novo ficou felicíssimo quando a Revolução de Abril rebentou em 1974. Quis regressar definitivamente a Portugal, em ânsias de poder contribuir para a nova democracia portuguesa, mas mal sabia ele que isso nunca iria acontecer.
Mal-amado até na liberdade recém-conquistada pelo seu país, mesmo sabendo o desejo do poeta de regressar a Portugal, ninguém se dignou a convidar o escritor para nenhum cargo universitário ou institucional da cultura portuguesa, que o deixou profundamente desiludido e amrgurado.
Sena permanceu a viver nos Estados Unidos até ao último dia da sua vida em 1978.
Apenas em 2009 regressou a Portugal, com os seus restos mortais trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, numa cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.
Os poemas de Conheço o sal... e outros poemas resultam das viagens de Sena. Não são poemas turísticos, apenas reflexões retiradas dessas mesmas viagens, o que os torna únicos pela visão pessoal que atestam do poeta viajante.
Estou cada vez mais próxima da última página da poesia de Sena e toda eu sou suspiros. Não consigo esconder a saudade que me deixa.
Entretanto ando a reorganizar a minha biblioteca pessoal que neste momento é um amontoado de livros pelo chão o que me leva a demorar horas à procura de qualquer livro.
Andei já à procura dos livros de contos de Sena. Guardei-os algures naquele amontoado enquanto me dedicava à leitura da poesia.
Quase não os encontrei.
Fiquei aflita.
Depois descobri-os e suspirei de alívio.
Já tenho planos delineados para criar a minha pequena biblioteca cá em casa, com móveis, pontos de luz e tudo a que os meus amados livros têm direito.
Tudo desenhado em papel, com medidas, cores e orçamento, mas esses planos ainda terão de esperar um pouco.