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Livrologia

Livrologia

23
Abr22

Carta de amor ao livro

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Querido livro,

Desde o primeiro momento que te vi foi amor à primeira vista. Soube nesse momento que seria um daqueles amores intemporais e inesquecíveis.

Mal eu sabia que não só irias mudar a minha vida, mas também salvá-la. Sou uma pessoa melhor contigo.

Compreendes-me melhor que ninguém e é contigo que tenho as melhores conversas.

Contigo a existência tem tido outro encanto e desespero quando estás ausente. 

Sei que tu e eu vivemos num paradoxo - quanto mais te leio, menos te conheço -, mas para mim é o melhor dos paradoxos existenciais.

Tornaste-te na minha missão e desde que aprendi a ler que liberto livros encarcerados nas estantes.

Amar-te tem sido uma experiência humana incalculável.

Para sempre tua,

Miss X

22
Abr22

É como se sentisse que a vida me foge

É como se sentisse que a vida me foge. É como se,

das pontas dos dedos, eflúvio inútil, um magnetismo se

escapasse inócuo, sem penetrar as pessoas e as coisas. É como se

eu sentisse em mim um vaso, um lago, um mar, e se

esvaísse o nível dele.

Excerto do poema Se

Tempo de Peregrinatio ad Loca Infecta (1959-1969)

in 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena

22
Abr22

E a solidão é como um convento

Outrora, uma pessoa retirava-se do mundo,

amortalhava-se em vida, fazia-se monge,

(...)

Hoje, não há mais mundo

de que uma pessoa possa retirar-se.

O mundo se retirou de nós. E a solidão

é como um convento gigantesco em que,

na rua, nos transportes colectivos, na cama,

olhamos a vizinhança com a mesma convicção

com que os carmelitas descalços ao cruzarem-se no claustro

mutuamente se saudavam (...)

 

Excerto do poema Elogio da Vida Monástica

Tempo de Peregrinatio ad Loca Infecta (1959-1969)

in 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena

17
Abr22

Que gente burra

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Que gente burra. Não sabem nada, não sonham a que ponto nos queremos, nem sequer nunca lhes passou, por partículas de segundo, na mente, como de facto tenho sofrido por ti.
Nunca compreenderiam que tenho sofrido sempre com esperança e que, possivelmente, a certeza de que precisas de mim, de que só apoiado em mim te libertarás de ti próprio, me faz querer- te mais, com mais forte amor, com mais ternura, com mais intimidade, se é legítimo dizer-se. E também nunca saberão quanto te sou grata por teres feito de mim uma mulher que ama, que deseja e que sabe o que é sentir o prazer de ser possuída e de se entregar até ao fundo mais fundo de si.

Mas como explicar? E para quê? Pudesse a minha boca procurar a tua e não mais pensaria em nada. Ser a minha vida preocupação para alguém quando eu, eu que sou mãe, só desejo que meus filhos encontrem quem com eles faça uma vida só, como nós dois fazemos. A maior e única amargura da minha vida é pensar que a morte ou até a vida nos separe alguma vez. É uma amargura que me advém afinal, e por paradoxal que pareça, de tanto te querer. (...)

Tua sempre, meu amor,
Mécia


in Correspondência Jorge de Sena e Mécia de Sena «Vita Nuova» (Brasil, 1959-1965)

com organização de Maria Otília Pereira Lage

17
Abr22

Por mais que nasça dos homens o homem

Amigos meus: de que metamorfoses

sois vós meus fiéis e como que inimigos?

E que inimigos, as metamorfoses

das coisas e do tempo têm poder

para os aniquilar? Por mais que nasça

dos homens o homem, e que esse homem faça

o que nos será mais que natureza,

nada resta senão este ar maligno,

esta vileza insana, este morder

raivoso e traste, esta indiferença

que nega mais a vida que a maldade.

Excerto do poema Dedicatória

Tempo de Peregrinatio ad Loca Infecta (1959-1969)

in 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena

16
Abr22

É noite, eu sei

É noite, eu sei. Mas como é tanta a noite

que nada resta humano entre os mortais?

Excerto do poema Requiem para o Mundo Perdido

Tempo de Peregrinatio ad Loca Infecta (1959-1969)

in 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena

16
Abr22

40 anos de servidão poética

21962060_NYu4a.pngApós a publicação da antologia Poesia I, II e III estava planeado um novo livro - Poesia IV -, mas tal acabou por não acontecer durante a vida do autor. 

Mécia de Sena organizou esta belíssima antologia póstuma, mantendo não só o título escolhido pelo autor, mas também muitas das indicações que deixara em vida.

A leitura desta antologia não dispensa a leitura dos restantes livros de poesia de Jorge de Sena, mas para quem quer conhecer o poeta num só livro, o livro a ler será este: 40 Anos de Servidão, título que designaria os seus 40 anos de servidão poética.

Pág. 1/4

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
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