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Livrologia

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27
Mai22

Com efeito, as coisas raras, ainda que monstruosas, costumam mover-nos

Afirmam os filósofos da natureza que uma certa sensação desagradável precede, à boca do estômago, o apetite, de tal maneira que a natureza, que se esforça por se conservar sã em si própria, assim se refaça, uma vez estimulada.

Do mesmo modo julgo, com razão, que o admirar-se, causa do filosofar, precede o desejo de saber, para que o intelecto, cujo ser é entender, se realize no estudo da verdade. Com efeito, as coisas raras, ainda que monstruosas, costumam mover-nos.

in A Douta Ignorância de Nicolau de Cusa

(Tradução, introdução e notas de João Maria André)

27
Mai22

Escrevi-te um poema

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A carta que o Manuel mandou tua era anterior à que recebi. Vivemos, meu Amor, numa balbúrdia de correspondência trocada em que nem a cronologia nos dá a ilusão de sequência. E eu roído de saudades de ti, ansiando por falar contigo e ter-te, e tanto precisando da tua pessoa e da tua presença. Contigo a meu lado estaria pronto para tudo. Escrevi-te um poema:

Nas terras de além do mar
está meu Amor assentado.
Seus olhos fitam a noite,
Seu seio sobressaltado
respira em brandos soluços
nas cartas que está escrevendo
o meu silêncio de ausente,

de distante e de presente
no corpo que se torcendo
está de saudades de mim.
Oh meu amor, minha amada
Meus ouvidos, minha fala.


Beijos, beijos aos pequenos. Beijos e abraços e saudades do teu do coração

Jorge

in Correspondência Jorge de Sena e Mécia de Sena «Vita Nuova» (Brasil, 1959-1965)

com organização de Maria Otília Pereira Lage

25
Mai22

Chega-se a um momento da vida

Chega-se a um momento da vida

(e por coincidência a um momento do mundo

que seja por linguagem o nosso)

em que o poeta se interroga antes de escrever:

porquê, e para quê, e para quem?

Excerto do poema «Chega-se a um Momento...»

Tempo de Conheço o Sal... (1973)

in 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena

25
Mai22

Jorge de Sena | Choro de Criança

A miséria dos velhos misturada com a miséria dos novos numa cidade sombria e decadente:

A urgência de novos valores é suscitada pela ocorrência do desconforme, em que o escatológico e o grotesco irrompem, ainda que no seio de uma sociedade pretensamente normalizada, fragilmente polida.

A descrição do mendigo nu e da sua companheira, dos seus atos desafiadores das conveniências sociais, conscientes de estarem a ser observados, de “Choro de criança”, resulta numa metáfora da decadência que grassa no seio de tal sociedade.

@Lígia Bernardino - revistacaliban.net

24
Mai22

O repousar tranquilo da criança que dorme

Havia nos cabelos alourados, e caídos sobre a testa e as pálpebras fechadas, no nariz que o ténue respirar afilava a espaços, no ligeiro recurvar dos lábios entreabertos em sorriso, no braço e na mão que se alongavam atravessados sobre o corpo, nos dedos semicruvados como de quem se esquecera, ao adormecer, de segurar um brinquedo, ou se lembrara, dormindo, de pegar algum, a distensa e prolongada moleza, o repousar tranquilo da criança que dorme.

 

Excerto do conto Choro de Criança

in Os Grão-Capitães (1976)

de Jorge de Sena

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