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Livrologia

Livrologia

19
Nov22

A verdade

Mas eu penso que devemos enfrentar a verdade; e, se não temos coragem de enfrentá-la, porque nos faria sofrer muito no mais fundo de nós outros, ao menos devemos alimentar uma grande dúvida sobre as razões que nos cumprem, para não fazermos sofrer os outros.

in Sinais de Fogo de Jorge de Sena

18
Nov22

Mário de Andrade foi um autor profundamente autocrítico

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Continuo a navegar pelas páginas de Poesias Completas - Volume II, onde, num dos capítulos, Mário de Andrade comenta pelo seu próprio punho o processo de criação de Café. 

Quando os autores escrevem sobre as suas próprias obras é interessante efectuar um paralelismo com a crítica. Geralmente esse paralelismo resulta numa concordância em discordar de ambas as perspectivas.

Mário de Andrade foi um autor profundamente autocrítico, que deambulou demasiado pela fronteira da sua própria anulação. Talvez por isso gostasse de reflectir sobre o que escrevia, procurando de alguma forma a validação da sua obra:

Não se poderia acaso tentar uma ópera coletiva tendo como base do assunto o café?... Esta foi a pergunta inicial que em seus dois elementos teve imediato duas respostas em mim.

Ópera “coletiva” teve uma resposta, além de social, estética e artística, que será talvez a originalidade mais essencial do meu trabalho. Não se tratava apenas de fazer uma ópera que interessasse coletivamente a uma sociedade, mas que tivesse uma forma, uma técnica mesma derivada do conceito de coletividade. Uma ópera coral, adivinhei. Um melodrama que em vez de indivíduos, lidasse com massas, em vez dos solistas virtuosísticos que foram sempre a morte do valor social da arte, convertidos a semideuses de culto na Grécia como a semideuses de ouro em nossos dias: em vez de solistas, coros, personagens corais, corais solistas. Enfim, uma ópera inteira, exclusivamente coral.

Quanto ao assunto do café, a própria história mais recente do grande comércio paulista se impunha como lição. A crise de 1929, a revolução de 30. Está claro que desde logo afastei qualquer ideia de cantar historicamente uma revolução determinada. O que me importou foi o princípio geral: em toda a fase em que se dá depreciação de uma base econômica, vem a insatisfação pública que acaba se revoltando e mudando o regime.

17
Nov22

O meu peito é uma sala de castelo

O meu peito é uma sala de castelo,
Sala deserta, sala muda, fria,
Sem um riso de flor, sem a alegria
Duma açafata ou de algum pajem belo.


Solenidade e poeira. Fora o dia,
Festa do azul, do róseo, do amarelo,
Mas dentro apenas o ligeiro anelo
Da luz mortiça duma fresta esguia.


Paredes guarnecidas de veludo,
Alfaias, móveis, almadraques, tudo
Cobre a penumbra com seu olho absorto.


E há o retrato do meu antepassado,
O meu eu de criança abandonado,
O meu primeiro coração, já morto.

 

Poema O Retrato - Poesias Inéditas e Esparsas

in Poesias Completas II (1941) de Mário de Andrade

17
Nov22

Caiu-me ao peito cheio de esplendores

Tanta lágrima hei já, senhora minha,
Derramado dos olhos sofredores,
Que se foram com elas meus ardores
E a ânsia de amar que de teus dons me vinha.

Todo o pranto chorei. Todo o que eu tinha,
Caiu-me ao peito cheio de esplendores,
E em vez de aí formar terras melhores,
Tornou minha alma sáfara e maninha.


E foi tal o chorar por mim vertido,
E tais as dores, tantas as tristezas
Que me arrancou do peito vossa graça,

Que de muito perder, tudo hei perdido!
Não vejo mais surpresas nas surpresas
E nem chorar sei mais, por mor desgraça!

Poema Soneto - Poesias Inéditas e Esparsas

in Poesias Completas II (1941) de Mário de Andrade

16
Nov22

Irei revelar brevemente o meu ciclo de leitura para 2023

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O ano está quase a chegar ao fim e estou já com dificuldades em ter tempo para terminar o ciclo de leitura de Jorge de Sena.

Estou a equacionar seriamente dedicar-me em exclusivo à leitura dos livros que me restam dele para terminar o ciclo de leitura ainda este ano.

Entretanto estou a terminar o planeamento do meu ciclo de leitura para 2023 que exigiu bastante do meu tempo e que irei revelar brevemente.

Como estou, então, de leituras?

 

De Jorge de Sena:

  • continuo a ler Sinais de Fogo e tem sido uma experiência agradavelmente inesperada, considerando que foi o único romance que o autor escreveu, apesar de inacabado.
  • continuo a ler Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço
  • na calha para ler: O Indesejado, Monte Cativo e Outras Ficções e Correspondência - Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena.

 

De Mário de Andrade:

  • acabei de ler Poesias Completas I
  • comecei a ler Poesias Completas II, com poemas inéditos

 

De Vinicius de Moraes:

  • retomei a leitura de Forma e Exegese

 

De Érico Veríssimo:

  • acabei de ler  Gato Preto em Campo de Neve
  • comecei a ler  A Volta do Gato Preto, a viagem de regresso de Érico Veríssimo aos Estados Unidos, mas desta vez em família.
Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
Cinema e literatura num só.
Venham também!
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Notícias literárias ou assim-assim em Operação Bookini
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