- Pois é... Nisso é que está o mal. Todos vão vivendo, sem se darem conta de nada, sem verem a miséria que há. E, mesmo que não houvesse miséria, sem verem a exploração do homem pelo homem, em que vivem e de que vivem.
Marcus Vinitius da Cruz e Melo Moraes - é este o nome completo do poetinha.
Nasceu dia 19 de Outubro em 1913 numa família de apaixonados pela arte. O pai dividia-se entre o serviço como funcionário da prefeitura e o seu lado artístico (violinista amador e poeta) e a mãe, Lídia Cruz, era pianista.
Talvez por ter crescido num meio artístico Vinicius interessou-se desde pequeno pela poesia.
Sempre teve uma personalidade determinada, de tal modo que aos nove anos, decidiu ir com a sua irmã Lygia a um cartório no centro do Rio de Janeiro para mudar o seu nome, passando a chamar-se simplesmente Vinicius de Moraes.
Choram as árvores na espantosa noite, curvadas sobre mim, me olhando Eu caminhando. . . sobre o meu corpo as árvores passando Quem morreu si estou vivo, porque choram as árvores? Dentro em mim tudo está imóvel mas eu estou vivo, eu sei que estou vivo porque sofro.
De nada vale ao homem a pura compreensão de todas as coisas Si ele tem algemas que o impedem de levantar os braços para o alto De nada vale ao homem os bons sentimentos si ele descança nos sentimentos maus
Muito forte sou para odiar nada sinão a vida Muito fraco sou para amar nada mais do que a vida A gratuidade está no meu coração e a nostalgia dos dias me aniquila Porque eu nada serei como ódio e como amor si eu nada conto e nada valho.
Decidiu-se então promover a leitura pública de "Café", ainda inédito, e eu achei que a pessoa indicada era Carlos Lacerda, que fora muito amigo de Mário, tinha uma bela voz abaritonada e viera para a inauguração do busto.
Falei com ele e ele aceitou, mas foi precipitação minha, porque Oneida Alvarenga e Luís Saia, discípulos queridos muito chegados a Mário, vetaram, alegando que este desaprovaria totalmente as atitudes políticas que Carlos vinha assumindo, que aliás eu também reprovava.
Muito sem graça, tive de lhe dizer que era melhor eu próprio ler. "Já percebi", disse magoado. "É coisa da Oneida e do Saia". Assim, em vez da bela voz de Carlos, "Café" foi comunicado ao público na minha, fraca e abafada.