Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Livrologia

Livrologia

30
Dez22

Misturar propositadamente a realidade e o sonho, o conjunto e a singularidade…

conversatorio3_1.png

A instabilidade externa pontua a agitação íntima numa metamorfose, que antecipa e justifica a profunda alteração das circunstâncias do mundo.

Daí a preocupação de Jorge de Sena, como romancista, distanciado no tempo, em misturar propositadamente a realidade e o sonho, o conjunto e a singularidade…

E assistimos assim à sucessão de uma guerra e de um armistício entre Jorge, o protagonista, e as suas memórias, quando o país e o mundo mudam intensamente. E os anos trinta anunciam com nitidez esse contraste entre a ilusória placidez interna de um Portugal ameaçado, mas incrédulo, e a proximidade de uma grande tragédia que, como sabemos, vai ser global, sem se conhecer se seríamos também envolvidos no drama anunciado.

De qualquer modo, avista-se no horizonte o negrume da morte… O certo é que “a imprevisibilidade não era senão o sinal de que o maior horror da responsabilidade estava em não poder haver responsabilidade alguma”. E, ao cair do pano, com a ameaça irónica de uma intentona sem sucesso, vislumbramos a estranha contradição entre o medo e a angústia das tragédias imprevisíveis. E é a própria responsabilidade que se desvanece, perante a negação da liberdade. 

in CNC por Guilherme d’Oliveira Martins

30
Dez22

Nem a experiência da vida pode ser feita de experiências incomuns

O espantoso e o monstruoso não podem, porém, ser-nos habituais, nem a experiência da vida pode ser feita de experiências incomuns.

Mas que as experiências nos dêem o conhecimento de que os limites do possível não são os do provável ou do previsível, eis o que nos daria consciência de que a própria vida é, ou pode ser, a qualquer instante, um furacão que arrasta para o seu torvelinho criaturas inocentes e desprevenidas, que larga, com a mesma indiferença, num estendal de cadáveres e de detritos, espantados de se verem juntos.

in Sinais de Fogo de Jorge de Sena

30
Dez22

Como podia eu conceber a realidade, sem ser capaz de imaginá-la?

Que as vidas fossem imaginadas não alterava nada, e antes pelo contrário, ao valor do que eles dissessem: como podia eu conceber a realidade, sem ser capaz de imaginá-la?

Qualquer realidade não-imaginada seria sempre menos que realidade. Tudo o que me acontecera ou acontecera comigo estivera todavia fora do imaginável - sim, mas na aparência só.

in Sinais de Fogo de Jorge de Sena

30
Dez22

Por que haviam eles de acontecer-me a mim?

E, se eu não sabia nada de versos, nem particularmente apreciava «poesia», por que haviam eles de acontecer-me a mim?

Ter escrito aquilo não me dava satisfação alguma. Pelo contrário, despertava-me uma sensação de perplexidade, como se uma nova responsabilidade, que eu não solicitara a mim mesmo, estivesse a formar-se na minha consciência: a de escrever quando sentisse aquela expectativa ansiosa a brotar de um vazio, e a de supor ou forçar a suposição de que aquilo significava alguma coisa para mim ou para os outros.

in Sinais de Fogo de Jorge de Sena

29
Dez22

E é um poeta que vai nascendo…

conversatorio3_1.png

A poesia, os sentimentos íntimos, a consciência política, tudo emerge num torvelinho de acontecimentos.

E é um poeta que vai nascendo…

“Poeta, para mim, como para a minha família, e para os meus amigos, era uma pessoa algo caricata, segregada da normalidade da vida, e que se instalava na personalidade romântica de falar por conta própria ou dos outros, como se o que ele dissesse fosse da mais alta e especial transcendência, não o sendo realmente para ninguém a não ser em ocasiões muito especiais”.

Como diz Jorge Fazenda Lourenço: “Sinais de Fogo seria uma longa meditação sobre o caminho que vai do instante de se ‘ter nascido poeta’ (por Graça) ao momento de ‘reconhecer-se poeta’ (por Obra)” (“Relâmpago”, nº 21, outubro de 2007). E esse percurso, neste romance de formação, acompanha o drama violento da Guerra de Espanha e descreve a evolução difícil do desenvolvimento espiritual, do desabrochamento sentimental, da aprendizagem humana e social.

in CNC por Guilherme d’Oliveira Martins

Pág. 1/12

Quanto mais leio menos sei
Tudo o que escrevi para o Desafio de Escrita dos Pássaros está aqui!
Já começou a viagem pelo mundo da Gata Borralheira.
Cinema e literatura num só.
Venham também!
bookinices_spring.png
Notícias literárias ou assim-assim em Operação Bookini
Espreitem as bookinices
A autora deste blog não adopta o novo Acordo Ortográfico.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D