And as he listened in the dusk to the numberless murmuring voices of living creatures large and small which rose out of the valley, and as from high above him the serenity of the mountains there towering over thousands of years stole into his spirit, Roger had a large quieting sense of something high and powerful looking down upon the earth, a sense of all humanity honeycombed with millions upon millions of small sorrows, absorbing joys and hopes and fears, and in spite of them all the Great Life sweeping on, with no Great Death to check its course, no immense catastrophe, all these little troubles like mere tiny specks of foam upon the surface of the tide.
Estou a ler pela primeira vez Annie Ernaux e decidi começar pelo seu primeiro livro Les Armoires Vides. Não o encontrei traduzido para português e estou a ler a versão em inglês Cleaned Out.
A escrita é crua, de uma nudez confessional e directa que me tem deixado lívida com a verdade inesperada da sua humanidade.
Quem se confessaria assim publicamente? Annie Ernaux.
Como se arrancasse as páginas do seu diário e as atirasse à nossa cara num momento de frustração, raiva, desilusão, inconformismo, como se as páginas não fossem já suficientes para albergar o desalento dos momentos existenciais mais profundos que vive como ser humano.
I'm not like them, I'm different. I have nothing to say to them. I hardly dare to say this to myself anymore. Respect others. But that doesn't change anything. I'm a bitch.
"Honor your father and mother." Not much of that. The worst thing was that they weren't bad to me, or strict. I didn't talk about it to anyone, but at school, walking around in town, reading. I had learned to make comparisons.
in Les Armoires Vides (Cleaned Out) de Annie Ernaux
Perhaps there never was an equilibrium between my two worlds. I must have taken one as the point of reference, difficult not to.
If I'd opted for the world of my parents, of the Lesur family, it would have been worse still, half of them were pickled in red wine, I'd never have wanted to do well at school, I'd have been behind the counter selling potatoes, I wouldn't have gone to college.
Small wonder that I hated the shop, the café, the pathetic customers always after credit.
I'm trying to find excuses, was there any other way out? Out of what?
in Les Armoires Vides (Cleaned Out) de Annie Ernaux
Bem, isso vem, em grande parte, de que, em Portugal, ainda existe, e existiu, e em grande parte desde o Romantismo, a ideia de que o escritor é assim um génio pela graça dos deuses, e que quanto mais analfabeto seja mais o génio sai puro.
Acontece que quando um sujeito é analfabeto o que sai é analfabetismo, não pode sair outra coisa, porque não tem lá mais nada para dizer à gente. E mesmo que tenha para dizer à gente ele não sabe como é que há-de dizer, e sai tudo errado, sai tudo trocado, sai tudo coxo, etc. As pessoas gostam muito porque isso é precisamente o sinal do génio, mas o pior é o que acontece aos génios.
Eu lembro sempre aquela frase famosa de Fernando Pessoa que dizia assim: «Em Portugal, os poetas produzem como Deus é servido, e Deus fica mal servido.»
Excerto da entrevista Rádio Clube de Moçambique, 19 de Julho de 1972 por Leite de Vasconcelos (difusão proibida pela censura)
in Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço