O amor, o sexo, a amizade, as relações domésticas, as relações ocasionais, as rotinas diárias, a política, tudo... - nada disso constituía um todo harmonioso de que às vezes o equilíbrio se rompesse.
Eram como numerosas superfícies em movimento, que se sobrepunham, coincidiam parcialmente, intersectavam-se, afastavam-se, segundo uma multiplicação de acasos tão grande, e uma possibilidade combinatória tão variável com as pessoas envolvidas ainda que ocasionalmente, que a ideia de uma lei, de uma ordem, de uma regra, de uma norma, de um limite seguro entre o bem e o mal, nem sequer seria válida para uma aldeia perdida nas montanhas, isolada do mundo, onde meia dúzia de pessoas apenas repetissem, de geração em geração, os mesmos gestos, os mesmos passos.
Sinais de fogo é um romance só aparentemente falhado porque, ao que conta Mécia de Sena na longa e esclarecedora introdução escrita entre 1983 e 1984 e acrescentada à terceira edição da obra, era o segundo dos quatro títulos planejados para formar o ciclo ficcional Monte Cativo.
Durante a concepção, o escritor relatou aos amigos muito de perto o processo de geração até chegar a um consenso de que o romance semiconcluído era a “primeira parte de um vasto ciclo que não sei se chegarei a escrever”.
Sua companheira recorda o quanto Sinais de fogo se processa como a entrada a Monte Cativo porque espelha “o ponto de viragem do panorama político e social europeu”. Jorge de Sena anuncia em carta a José-Augusto França de março de 1965, que Monte cativo seria o retrato de sua geração e, portanto, daria conta da vida portuguesa no que se refere aos costumes e o ambiente político e moral desde 1936 a 1959.