E que sentido tinha segurar as pessoas?
O que eu sentia era contraditório: um grande alívio por o Luís se ir embora, algo revoltadamente eu sentia; mas também uma amargura que me fazia pensar que todas as pessoas que me não fossem no fundo indiferentes, ou a quem eu o não fosse, eram precisamente aquelas que intensamente passavam por mim para sumir-se num tumulto anónimo.
Seria, como ele dissera, que eu não fazia nada para segurá-las, ou o que fazia era exactamente o que as não seguraria, por elas ou por inadequação às circunstâncias? E que sentido tinha segurar as pessoas? Quais eram e como as pessoas que a gente segurava: as que nos queriam, ou as que nós queríamos? E não parecia que fugiam precisamente as que não desejaríamos perder, ou as que contraditoriamente nos inquietavam com a sua presença?
in Sinais de Fogo de Jorge de Sena