A vida realmente apostara em pôr-me à prova: não havia sucessão absurda de acontecimentos trágicos, ou grotescos, equívocos, ou puros, insignificantes, ou incompreensíveis à força de significado, que ela não pusesse em mim ou no meu caminho.
Assim é que o título do romance [Sinais de Fogo] abriga uma variedade de sentidos que vão da pulsão interior para a criação poética ao estopim de uma barbárie de marcas indeléveis para a sociedade portuguesa.
Mas, se repararmos que o modelo político aí vigente até 1974 foi reproduzido em rigorosa proporção nas demais sociedades e se repararmos na destituição de fronteiras da obra literária, logo percebemos que as situações evocadas por esse romance extrapolam o valor original designado pelo escritor: deixa de ser apenas um panorama sobre a vida portuguesa para ser um panorama sobre a comunidade humana, sobretudo porque tais experiências históricas são oferecidas por através do ponto de vista de um indivíduo às voltas com suas próprias transformações e estas, bem sabemos, são universais.