A música tem mais sorte
A música tem mais sorte; mas eu não sei música e, se soubesse, ninguém percebia na falta de palavras.
in Monte Cativo e Outros Projectos de Ficção de Jorge de Sena
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A música tem mais sorte; mas eu não sei música e, se soubesse, ninguém percebia na falta de palavras.
in Monte Cativo e Outros Projectos de Ficção de Jorge de Sena
A América, proporcionalmente à população, não lê tanto como Portugal. Parece uma afirmação sensacionalista, mas é assim.
O americano lê muitas revistas do tipo magazine e jornais locais, mas só compra livros quando estes se tornam importantes e entram no circuito das edições populares. Neste caso, atingem enorme expansão.
De resto, o americano não tem o culto da biblioteca.
Quando eu vim da Universidade de Wisconsin para Santa Barbara, pus como condição, no contrato, que a universidade devia encarregar-se do transporte dos inúmeros livros que compõem a minha biblioteca pessoal. Este meu pedido causou uma verdadeira surpresa em Wisconsin. Nunca algum professor tinha formulado semelhante pedido. E chegaram a dizer-me: mas porque não vende os seus livros aqui em Madison e, depois, compra outros em Santa Barbara? É claro que esta atitude, que um intelectual europeu recebe com um choque, tem uma explicação. Os americanos possuem bibliotecas públicas magníficas e em grande número. Qualquer livro pode ser requisitado para casa pelo cidadão sem o menor encargo. As bibliotecas das universidades são completíssimas. O americano pensa: para quê ter em casa uma biblioteca que ocupa espaço, se tenho todos os livros que quiser na biblioteca pública?
Nós não pensamos assim.
Excerto da entrevista Diário Popular, Lisboa, 30 de Junho de 1971 por Nuno Rocha
in Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço
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