Quando, na última das suas teses sobre Feuerbach, Marx fala sobre a necessidade da nova filosofia mudar o mundo, ao contrário de todas as filosofias precedentes, ele dá uma chave estruturalista, porque diz: os outros filósofos não fizeram senão excogitar várias hipóteses, mas, na medida em que o mundo existe e o nosso conhecimento sobre ele é uma coisa reflectida, é óbvio que não vale a pena produzir teorias para um mundo ideal, mas para o que existe e que, portanto, só pode fazer sentido o conhecimento deste mundo como transformação através da aproximação dele.
Excerto da entrevista Steaua, n.º 22, nova série. 16 a 30 de Novembro de 1972 por Marian Papahagi
in Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço
E assim como o pé não está apenas ao serviço de si, mas dos olhos, das mãos, do corpo e do homem todo, apenas no que se refere ao simples caminhar, o mesmo se diga dos olhos e dos restantes membros, e, bem assim, das partes do mundo. Efectivamente, Platão disse que o mundo era um ser vivo.
Os Antigos não chegaram ao que já dissemos, porque lhes faltou a douta ignorância. Para nós já é claro que a terra se move de verdade ainda que isso não nos apareça assim.
Quando transformamos a dor em palavras, estamos procedendo a uma imitação, num outro meio de comunicação daquilo que, de outra maneira, são só lágrimas.
Excerto da entrevista Vida Mundial, Lisboa, 25 de Agosto de 1972 por João Carreira Bom
in Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço
Considero-me um homem «religioso», sim, mas num sentido muito mais amplo.
Não no sentido de uma religião da humanidade, de um positivismo (deus me livre); sim, no sentido de sermos fiéis a qualquer coisa de imanente à própria humanidade e que nós sabemos - pessoalmente - que nos transcende.
Excerto da entrevista Vida Mundial, Lisboa, 25 de Agosto de 1972 por João Carreira Bom
in Entrevistas 1958-1978, edição de Mécia de Sena e Jorge Fazenda Lourenço
Por isso, é impossível que a máquina do mundo tenha esta terra sensível, o ar, o fogo ou qualquer outro elemento como centro fixo e imóvel, considerados os vários movimentos das esferas.