A solidão toda só
Somente campo de erva, liso, verde. Sentei-me e ali fiquei a olhar - o prado. Uma ovelha, uma só, comia daquele verde, num sossego completo, sem sair do mesmo sítio. O sol foi andando e a sombra cobriu o prado todo. O verde tornou-se mais escuro e comecei a sentir frio. O meu pai, um pouco afastado, lia em silêncio o seu jornal.
Uma grande nostalgia, uma impressão de estar em terra distante e desconhecida se apoderou de mim. O prado não era Oliveira, ali não havia nada nem ninguém conhecido. Ali era o país da solidão e do silêncio, sem murmúrios, sem confidências e sem revelações. A solidão toda só.
in Horas Vivas: Memórias da Minha Infância (1952) de Natália Nunes