Já sabia ler quando entrei para a Escola, ia fazer sete anos. O meu Pai começou a ensinar-me pelo mês de Setembro e para o fim desse mês eu atingia as últimas lições da Cartilha de João de Deus, naquela página onde se dizia: «Ó Pedro, que é do livro de capa verde?»
in Memórias da Escola Antiga (1981) de Natália Nunes
Terão os símbolos odor, gosto, olhos, tacto, ouvidos? Se tivessem, não seriam símbolos, seriam gente - diria o Alberto Caeiro.
Mas pode chegar-se aos símbolos sem passar pelos sentidos? Se se pudesse, não seriam humanos: seriam sinais de outra estirpe - diriam os sensualistas.
O tanger de um sino só se ouve, em literatura, da maneira que Fernando Pessoa indicou: ecoa na nossa «alma distante». Já não é um som, é um advérbio, como o mostra um dos mais vivos passos deste belo livrinho: «o sino tocava a finados vibrantemente, oh! sim vibrantemente! vitoriosamente e inexoravelmente.»
Mário Sacramento
in Prefácio de Horas Vivas: Memórias da Minha Infância (1952) de Natália Nunes